“Um misto de felicidade e medo”

Gustavo Meneses
EntreFios - tecendo narrativas
3 min readDec 4, 2023

Os julgamentos por tornar-se mãe aos 20 não impediram Antônia Glaucilene Mesquita de assumir a maternidade sem deixar de perseguir os planos traçados ainda na adolescência

Por Gustavo Mesquita

Glaucilene Mesquita interrompeu o sonho de ingressar no ensino superior para se dedicar à maternidade / Gustavo Mesquita

Chamada de Glauci por seus amigos e colegas de trabalhos, de Lena por quase todo mundo e de “mãe” por seus filhos, Glaucilene — sem o Antônia — é uma pessoa que não tinha certeza de que conseguiria continuar seguindo em frente quando veio a engravidar de seu primeiro filho, mas queria acreditar que conseguiria.

Olhares julgadores e falas ofensivas. Foi com o que teve de lidar quando engravidou aos 20 anos. Uma menina jovem e não casada, sendo julgada por tantas pessoas a seu redor. Para agravar o cenário, possuía uma aparência de 16 anos, fazendo com que os julgamentos se tornassem ainda mais comuns do que já seriam: “Quem mandou engravidar tão cedo?”.

Antes de engravidar, possuía dois planos: conseguir um emprego e ingressar na faculdade. Um deles teve de ser descartado. Mas não estava triste por engravidar. Pelo contrário, estava feliz. Com medo, porém feliz. Fazer faculdade podia vir depois que ela cuidasse de sua criança, pela qual ela fez questão de assumir responsabilidade, porque foi assim que a mãe a ensinou desde mais jovem.

E, assim, foi o início de alguns dos meses mais árduos e turbulentos de sua vida, tendo de trabalhar grávida e, ainda por cima, tendo de esconder o fato, pois era proibido em seu trabalho. Mas isso não era nada comparado à dor que sentiria caso não pudesse dar um lar e boas condições de vida para sua criança.

Ela não estava sozinha. Sua mãe não a expulsou de casa, apenas a lembrou de que ela mesma deveria assumir a responsabilidade por cuidar de seu bebê, mas que estaria pronta para ajudar com qualquer outra coisa. Seu namorado, e hoje seu atual marido, disse imediatamente que assumiria a criança e que ficaria do seu lado, mesmo que não fossem casados na época. E ambos perseveraram juntos. Quando perdeu seu emprego por não conseguir mais esconder o bebê, seu namorado conseguiu manter as coisas semiestáveis com o salário que recebia e conseguiu até mesmo receber um terreno de seu pai para construir uma casa.

Seu bebê nasceu, tendo um parto tranquilo, quase que em contraste com todo o resto das coisas que estavam acontecendo em sua vida. E ficou feliz. Feliz que seu bebê era saudável e que ela podia dar um lar para ele, depois de derramar tanto suor. O resto do mundo e da sua vida podiam esperar, pois ela queria se dedicar à responsabilidade, ou melhor, ao amor que tinha por aquela pequena pessoinha que provocou todo aquele frenesi pelo qual teve de passar.

Com o passar dos anos, conforme sua criança ia crescendo, Lena também foi retornando às coisas que ela tinha colocado em pausa, como conseguir um novo emprego e ingressar no ensino superior. E no meio disso tudo, teve até tempo de ter uma segunda criança, que ela ama e cuida do mesmo jeito que a primeira, junto de um marido que ela ama. Seu momento favorito do dia é chegar em casa e ver suas crianças quando as duas estão em casa, pois sabe que estão sempre prontas para recebê-la com o mesmo amor e carinho que ela recebeu ambas.

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Gustavo Meneses
EntreFios - tecendo narrativas

Estudante de Jornalismo na UFC. Tentando aprender a viver. E falhando.