Vacina, que bom que você chegou!

Tayane Monick
EntreFios - tecendo narrativas
3 min readAug 30, 2021

Tayane Monick

Charge da cartunista Laerte, produzida para a campanha em defesa das vacinas: consciência sobre a importância de vacinas para todos

Acordei em mais um sábado de pandemia, mas esse sábado foi diferente, o mais especial dos últimos longos meses, pois havia chegado o meu momento de tomar a vacina contra a Covid-19. Recebi a informação da data com lágrimas nos olhos e uma mistura de esperança, alívio de sobrevivência e saudade. Sou uma dos muitos brasileiros que não escaparam de perder um familiar para a doença. A memória do último encontro com meu avô e última conversa, que foi justamente sobre vacinas, antes dele morrer para a doença, logo me deixou despedaçada por ele não estar mais comigo. Das nossas conversas, para sempre vou levar os conselhos e um dos seus últimos comentários: “A melhor vacina é a que vai no braço!”.

O anseio de saber que a data da primeira dose poderia sair a qualquer momento me fez juntar todos os documentos necessários dias antes. Minha irmã mais velha, que faz questão de estar presente em todos os momentos importantes da minha vida, foi comigo para a unidade de saúde que me designaram. No caminho, ela comenta sobre o alívio de agora ter toda a família vacinada e sobre os problemas psicológicos que adquiriu devido ao medo e à angústia desse período caótico. Comecei a pensar como seria minha vida atualmente se não estivéssemos em pandemia. Seria maravilhoso não ter visto pessoas próximas sofrerem o luto e a dor que o coronavírus trouxe. Nossa! Parece que estamos vivendo isso há uns três anos! Muitas coisas aconteceram em tão pouco tempo!

Ao chegar no posto de saúde, me deparo com uma cena que não estou mais acostumada a ver nos locais que precisei frequentar neste período: muitos jovens reunidos, protegidos, alegres, com seus celulares compartilhando na internet que finalmente seriam vacinados. No início, fiquei assustada, perdi um pouco a capacidade de socializar e estar em locais assim. Também estava bastante ansiosa e meu corpo demonstrou isso (braços e dedos formigando, coração acelerado, não consegui parar de balançar as pernas). Rapidamente me motivei ao perceber a importância de comemorar momentos como esse e instigar pessoas a continuar fazendo acontecer.

Ao observar a minha geração no salão de espera, bastante empolgados e aliviados, percebi que todos ali presentes compartilhavam do mesmo sentimento: gratidão pelo SUS, pela ciência e por quem se empenhou/empenha para desenvolver e manter a eficácia das vacinas. Por isso, considero imaturos alguns comentários que vi na internet, após mergulhar em chuvas de stories esperançosos, que menosprezam a felicidade dos jovens que finalmente estão tomando a vacina depois de 560 mil mortos no país.

Quando entrei na sala para tomar a primeira dose, prometi para mim mesma que ia me permitir sentir o que fosse necessário e, sentimental como sou, deixei escapar para fora de mim uma lágrima enquanto a dose de vida entrava. Não me arrependo de nenhum cuidado que tomei e de tudo a que abdiquei para proteger a mim e as pessoas ao meu redor, mas é muito bom pensar que, aos poucos, vamos poder ter uma vida completa.

Vacina, você não sabe o quanto te esperei e a felicidade que você me trouxe. Arrisco a dizer que você foi o resultado de uma prova de amor entre as pessoas e que ter você no meu corpo é um grito de esperança para que eu, assim como todas as pessoas que fazem de tudo para este período passar, continue seguindo.

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