Do físico para o virtual

Andressa Ternes
entrelacados
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6 min readJun 23, 2020

O e-commerce a um clique de distância

Arte — Pixabay/Mohamed Hassan/Divulgação
Arte — Pixabay/Mohamed Hassan/Divulgação

Atualmente, quase todo tipo de informação está na palma da mão. Jornais que antes eram apenas impressos, agora estão em formato digital. As emissoras que eram ouvidas no antigo rádio a pilhas, hoje dispõem de fotos e imagens. E essa mesma transição do físico para o digital ocorre nas relações comerciais. Se antes era necessário ir até um estabelecimento para fazer uma compra, as lojas virtuais já dispensam isso porque o chamado e-commerce está apenas a um clique de distância. A própria tecnologia se transforma e auxilia nestas negociações. Se em um passado recente os acessos ocorriam apenas por computadores, os consumidores já podem comprar usando o próprio smartphone.

Segundo a Associação Brasileira de Comércio eletrônico (ABComm), em 2023, o setor deve atingir a marca de 130 bilhões em faturamento e mais de 100 milhões de e-consumidores (consumidores virtuais). O Rio Grande do Sul, por sua vez, está inserido nisso. Conforme dados do Compre&Confie, empresa de inteligência ligada a este tipo de atividade, o Estado é responsável por 14,1% das vendas do comércio eletrônico, sendo a segunda região que mais consome pelo mercado virtual. Os gaúchos ficam atrás apenas dos moradores do Sudeste, que lideram com 66,2% do total das negociações. Mas para entender essa dimensão, é necessário voltar um pouco na história e ir até a década de 1970, onde se deu início ao comércio digital.

Primórdios

O e-commerce é a abreviação das palavras comércio eletrônico, cujo significado geral da expressão se refere a compras e vendas virtuais. Este meio de comercialização surgiu no início da década de 1970, antes mesmo da “World Wide Web”, que foi o o primeiro buscador da internet e conhecido apenas por “Web”. Isso mostra que a primeira forma de comércio eletrônico não foi feita pela rede mundial de computadores, mas através de uma televisão modificada, chamada de “Videotex”. Essa ideia revolucionária foi a pioneira do e-commerce, denominada “Teleshopping”.

Com o passar dos anos e com a chegada da internet para uso comercial, as lojas virtuais foram se estabilizando e em 1999 o movimento foi ganhando força no Brasil. Nesse período ocorreu o surgimento das plataformas de compra Americanas.com e Mercado Livre, atualmente os dois maiores da América Latina.

Entretanto, todo esse avanço e propagação do comércio eletrônico resultam em uma baixa procura de produtos nas lojas físicas e consequentemente o fechamento delas. A questão futura a ser respondida é se as lojas físicas vão sobreviver perante o ambiente digital.

Lojas físicas

Com a crise econômica instalada em 2019 e a migração para o comércio eletrônico, o modo offline tradicional teve baixa de 3% no período, conforme relatório da Seed Digital, que é uma empresa de análise de dados do varejo.

Já a Junta Comercial Industrial e Serviços do Rio Grande do Sul (JucisRS), mostra que no ano passado mais de 71 mil empresas fecharam as portas nas seguintes categorias: empresário, LTDA, S/A, Microempreendedor Individual (MEI), Empresário Individual de Responsabilidade Limitada (EIRELI), entre outros. Só nos três primeiros meses de 2020, foram 17.178 empresas extintas. Houve também o encerramento de 4.447 filiais nas mesmas categorias citadas pela JucisRS em 2019. No primeiro trimestre de 2020, 967 delas fecharam, número maior do que o mesmo período do ano passado, quando 800 filiais encerram atividades.

Do físico para o virtual

Em 2019, o e-commerce no Brasil faturou R$ 75,1 bilhões, alta de 22,7% em relação ao ano anterior, inclusive, o aumento vem ocorrendo ano a ano. Para a ABComm, a estimativa de 2020 é de movimentar R$ 106 bilhões, número que representa aumento de 18% em relação ao faturamento do ano passado. Em Porto Alegre, por exemplo, o comércio eletrônico registrou ganho de R$ 793,7 milhões em 2018, segundo dados da Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico.

Um estudo do perfil do e-commerce no País, realizado pelo PayPal em parceria com a BigData Corp, mostra o crescimento desta atividade. As vendas aumentaram em torno de 40% entre 2018 e 2019, com ampliação do número de lojas online em 37,59%. Com esse avanço, são aproximadamente 930 mil empresas voltadas ao mundo virtual.

Dentro dessa estatística, está o Butcher 2.3.1, um comércio de carnes e de assados. A proprietária Juliane Oliveira, de 32 anos, diz que, depois de dois anos atuando como loja física, a empresa decidiu migrar para o digital. “O principal da mudança foram os custos de uma loja física, onde passaram a ser inviáveis. A gente não conseguiu ser competitivo no mercado. Então, surgiu a oportunidade junto com um frigorífico parceiro, que inclusive faz parte da agricultura familiar”, relata.

Para o comércio impulsionar as vendas, Juliana explica que investe no site e nas redes sociais, além de usar muito o WhatsApp e o próprio telefone. Segundo ela, todas as plataformas são importantes, mas o site é fundamental para a credibilidade da marca.

Do virtual para o físico

Ao contrário do que ocorreu com a Butcher 2.3.1, não houve apenas fechamentos de lojas físicas. Em 2019, 6.762 filiais de empresas abriram as portas e outras 1.294 no primeiro trimestre deste ano. A proprietária da loja de roupas online M10Universe Store, Márcia Galiano, de 32 anos, destaca que essa é o próximo projeto do seu negócio. A empresa é administrada pelas redes sociais e pelo WhatsApp, mas ela vê a necessidade de um ambiente real. “Para aumentar minha clientela e porque grande parte do público ainda não confia em sites e lojas online. Por fim, eu gostaria de tornar minha loja física para concretizar um sonho. Esse seria o próximo passo nesse crescimento”, explica Márcia.

O economista da Câmara de Dirigentes Lojistas de Porto Alegre (CDL), Oscar Frank, diz que o caso da M10Universe Store é um dos vários exemplos de empreendedores que ainda sentem a necessidade de ter uma loja física. Segundo ele, apesar das estatísticas serem favoráveis ao e-commerce, a solução para esta questão seria buscar uma espécie de integração entre os dois meios. “Não é possível encarar a venda física e online como substitutas, mas sim como complementares. Cada formato desempenha um papel fundamental. O e-commerce pode ajudar a dar uma escala maior ao negócio, promovendo eficiência, entre outros benefícios”, comenta Frank.

Integração

Estatísticas em todo o mundo têm mostrado este tipo de atividade complementar referida pelo economista da CDL de Porto Alegre. Uma delas é da Google, que encomendou uma pesquisa com empresa deste ramo, a Forrester Research. De acordo com o levantamento, os resultados são positivos para ambos os comércios já que a internet tem a tendência de participar de cerca de 32% das vendas do varejo offline. Isto significa que o consumidor usa o digital como vitrine para ter informações como tipo de produto e preço, mas tem concretizado a compra no comércio físico.

De acordo com o estudo, uma nova tendência que vem ganhando espaço é o conceito de venda “Omnichannel”, uma integração no online com o offline. Esse sistema possibilita que o cliente compre pela internet e retire na loja física., apresentando atrativos como frete grátis e prazos de entrega menores. O “Omnichannel” também permite ao cliente testar o produto na loja física e realizar a compra no virtual. E mesmo assim, recebendo em casa o que adquiriu.

Isso tudo resulta em uma parceria entre o digital e o físico, de acordo com Frank. Com o objetivo de atrair mais clientes, as lojas físicas precisariam de interação e participação do meio digital desde a hora da escolha do produto até a realização da compra. Ele acredita na integração dos dois meios como o futuro do varejo tradicional e online. “Vemos hoje em dia que a jornada de compra é mista, de modo que muitos pesquisam através da internet, mas adquirem a mercadoria na loja física. Quanto maior a integração desses canais, maior a possibilidade de atendimento das necessidades do cliente”, completa Frank.

Em tempos de pandemia

Em época de distanciamento social devido aos riscos de contaminação pela covid-19, as empresas tiveram que se adaptar com o trabalho remoto, principalmente com as telentregas solicitadas via internet. Com as lojas físicas fechadas, o e-commerce no Brasil registrou alta de 180% na demanda em determinados setores. Os dados da ABComm, repassados pelo presidente Maurício Salvador, também mostram que as categorias mais procuradas foram alimentos e bebidas, seguidos de produtos nas áreas de saúde e beleza.

Para Frank, quem já estava mais estruturado e já operava nessa integração antes da pandemia pode evitar maiores prejuízos. “Naturalmente, aqueles que já desenvolveram uma plataforma mais funcional antes da crise, colheram bons resultados diante do atual momento em que estamos vivendo. Espero que seja uma lição a ser carregada para o futuro, principalmente para os que ainda não haviam viabilizado essa alternativa”, explica o economista da CDL.

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Andressa Ternes
entrelacados

Estudante de jornalismo e futura correspondente internacional