A memória presente
Faz 10 anos, na época eu tinha 14 anos. Toda a vida pela frente e começando a entender o que chamamos de vida. Meu primeiro emprego foi ao lado do meu pai que me arrastava pra todo lado. Em uma feira da capital, onde ele trabalha até os dias atuais nos finais de semana. Ele me ensinou ser independente, que ter o próprio dinheiro tem o seu valor. O que eu não entendia era que enquanto os meus colegas de escola estavam dormindo eu havia tirado o meu sono para dar lugar ao trabalho.
Era madrugada, fria como a noite, neste dia eu conheci um dos pontos turísticos de Porto Alegre: a Escadaria da Borges. Tinha curiosidade em subir aquele monte de escadas. Mas não esperava que seria tão demorado e cansativo. Todo o esforço valia a pena, já que a vista do alto da cidade é linda. Após, descemos e ao olhar para baixo a realidade é outra bem diferente: moradores de rua dormindo com apenas um papelão, jogados ao chão esperando para morrer. Se é que já não estão mortos por dentro. Sem esperança. Passam despercebidos ou são completamente ignorados pelos que enxergam só o que querem ver?
Caminhando mais um pouco, vejo moças de sapatos de salto, de vestido, bem maquiadas, algumas acompanhadas e outras não. A minha ignorância de uma adolescente ou falta de conhecimento mais profundo, tinha em mente que a maioria eram garotas de programa, mas daqui uns poucos anos percebi que só eram mulheres que queriam se divertir, inclusive já fiz parte desse número de mulheres festeiras. Tinha homens também, muitos. Todos com garrafas de bebidas, sorridentes ou passando mal. Eu ficava pensando o porque a bebida era necessária, pra que consumir se vai me fazer mal ou me deixar inconsciente? Bastou apenas pouco tempo para eu ver que ela era necessária em alguns momentos.
O que não dava a entender era se aquelas pessoas estavam indo ou voltando de qual seria o lugar que estavam. Nem o que frequentavam. Porto Alegre era pequena pra tanta gente. Alguns sofrem, onde não tem o que comer e onde dormir, outros esbanjam dinheiro, alegria e bebida. Outros só estavam indo trabalhar e garantir o dinheiro da família. Eu estava aprendendo o que era a vida e as opções de escolhas que a gente tem.