Coisa mais linda — Uma crítica das duas temporadas

Ingrid Souza
Entre Resenhas & Poemas
4 min readJul 6, 2020

Série da Netflix mostra o Rio de Janeiro dos anos 60 e aborda temas ainda atuais e necessários.

Um dos destaques nacionais da Netflix com certeza é a Coisa mais linda, a série inclusive tem boa recepção até fora do país. Além das ótimas atuações, o figurino, a estética dos anos 60, a fotografia, as cores e a música que vai do MPB ao samba, elementos que complementam a série que faz jus ao título. O foco principal é a união e a força das mulheres, ainda vivemos em um mundo que o machismo está enraizado, mas aos poucos conquistamos o nosso espaço e direitos. Assim é com a série, todas as personagens femininas possuem as suas conquistas.

Na primeira temporada a protagonista Malu (Maria Casadevall) sofre com um relacionamento abusivo, no qual o seu marido Pedro (Kiko Bertholini), a abandonou. A mesma é julgada por ser livre, solteira e de se envolver com dois homens, apesar de não estar em compromisso com nenhum deles. Após este acontecimento Malu resolve abrir o Coisa mais Linda, um bar boêmio com música ao vivo. Outras formas de amor também são mostradas como o relacionamento aberto do casal Theresa (Mel Lisboa) e Nelson (Alexandre Cioletti), onde em algumas cenas é possível ver os dois se relacionando com pessoas do mesmo sexo. Outro tema abordado é a violência contra a mulher, a personagem Lígia (Fernanda Vasconcellos) possui uma linda voz e o sonho em ser cantora, porém um obstáculo a impede de realizar o desejo: seu marido. Ele não aceita o fato de sua esposa estar nesse tipo de espaço, a agride e acredita que tem posse dela, o pior de tudo é ver o machismo de sua mãe que passa pano para tudo que o filho fala e faz.

Destaque para as falas das personagens e dos temas abordados dentro do feminismo, inclusive o lugar de fala. A personagem Adélia (Pathy Dejesus) discute sobre o racismo que ela e sua filha sofreram a vida toda, inclusive o lugar onde vive com a sua família que possui menos condições financeiras, a sua profissão, onde era empregada doméstica e a Malu como mulher branca entende que não é seu lugar de fala, a escuta e apoia. A união das duas em realizar um sonho que é o Coisa mais linda é muito bonita de ver. Adélia parece estar bem com sua vida amorosa com o Capitão (Ícaro Silva), porém ainda é apaixonada pelo pai de sua filha, o Nelson. É possível ver o triângulo amoroso entre Theresa, Nelson e Adélia ao decorrer dos episódios.

Já Theresa é uma mulher decida, empoderada e até a frente de seu tempo, é a única mulher que trabalha em uma redação de jornal, cheia de homens, muitas vezes não é ouvida apesar de seu alto cargo. Podemos ver que muitos assuntos não podem ser falados e as poucas páginas do jornal dedicadas para as mulheres são apenas assuntos como receitas, família e tarefas domésticas, ao questionar o que as mulheres querem ler Theresa é ignorada e os homens levam como uma piada, mas ela continua na luta até conquistar o seu espaço aos poucos.

Apesar das diferenças as quatro são bem unidas e a série proporciona momentos lindos, também trágicos que nos revoltam e podemos nos identificar, já que ainda somos julgadas, faltam muitos direitos a serem conquistados e o homem tem seus privilégios apenas pelo seu gênero. A segunda temporada permanece com seus temas e seu foco, em decorrência da violência contra a mulher ocorre um feminicídio e as protagonistas seguem na luta por justiça, esta mesma é ignorada mesmo após um homem tirar a vida de uma mulher, a mulher é julgada e culpada – infelizmente ainda continua um tema atual em nossa sociedade. Uma personagem já conhecida da primeira temporada ganha o seu destaque e brilha, literalmente, Ivone (Larissa Nunes) irmã de Adélia com a ajuda de Malu se torna uma cantora cheia de carisma e uma voz potente. Malu continua em um triângulo amoroso dividida entre o amor do cantor Chico (Leandro Lima) e do produtor musical Roberto (Gustavo Machado), mas reviravoltas acontecem. Theresa se aventura em uma nova profissão de radialista e conhecemos um novo personagem Wagner (Alejandro Claveaux), no qual os dois possuem cenas de conflitos, discursos e até humor.

A Netflix não confirmou a terceira temporada, mas devido a boa audiência e recepção da série no Brasil e fora do país é possível que seja renovada para mais uma temporada, ainda mais com o final em aberto presente no último episódio.

Onde assistir? Netflix

Número de temporadas: 2

Número de episódios: 7 (1ª temporada) 6 (2ª temporada)

Minha nota: 9

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Ingrid Souza
Entre Resenhas & Poemas

Quando não cabe mais no peito (seja por tristeza ou por alegria) eu escrevo pra desabafar. Jornalista e falo de livros/séries no @seriandocomlivros