A chama
E essa minha chama que queima por dentro,
Será ansiedade, ou somente desejo?
Da ponta dos pés, aos fios de cabelo,
Consome meu corpo ao longo do tempo.
E essa brasa, acesa em meu peito,
Será só saudade, ou um antro de medos?
Se fico, ou se parto, se penso, ou me meto
Se corro, ou se abro as pernas, aceito.
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E a roupa que tiro, a imagem que olho,
E o ritmo quente, e o drink no copo?
E o fogo que chega, e me toma no colo,
De onde vêm as lágrimas da cama que molho?
E os filmes que assisto, e as dores que choro?
Confuso meu peito, sedentos meus modos;
Buscando-te a noite, num sonho te exploro:
Tu, cornucópia; meus sonhos, eróticos.
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Acordo piscando, retomo a visão;
Acendo um cigarro, caneta na mão;
Escrevo um poema, desisto, hoje não.
Contento-me com a carnificina da televisão.
Meu peito não pára, taquicardíaco
Não sei encaixar em meus versos, um título
E as rimas se perdem, rabiscos escritos
Coração cansado, poeta aflito.
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E a tua presença, em lembranças ardentes;
Meu peito em choro e ranger de dentes,
Meu céu e inferno, em chacras trocados
Em púbis e bulbos, me faço doente.
Não penso direito, espero outra chance:
Te entrego o meu corpo na cama que range,
Instintos me surgem, clarezas me somem:
Meu cérebro entregue a meu gozo gritante.
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E talvez só me reste aumentar a amostragem,
Me lanço ao destino, e aceito a viagem.
Entregue às tuas regras, eu curto a paisagem
Exploro trejeitos, e as nossas vontades.
Algemas na cama, eu preso em teu peito
E os corpos esquentam, dessa vez em um beijo
E já não preciso compreender os anseios:
A chama que arde sem se ver, já tem nome.