Distorção
Perdi minha capacidade de refletir,
De discernir o que é verdade, e o que é engano
Nas tuas palavras, tuas mentiras, nos teus prantos,
E experiências que me contas, parcialmente.
Perdi minha capacidade de me iludir,
De confiar tão cegamente em teus carinhos,
De me prender forte em teu toque, rarefeito
De caminhar pelas ruínas dos teus sonhos.
O que me contas? E o que censuras?
Estou sujeito a surpresas e a instantes?
Devo lidar com o abstrato e o incompleto?
Com a distorção que o teu sorriso lindo, esconde?
E nossa história, o que dizemos?
Devo contá-la na versão que soube, antes?
Reeditá-la até que seja novamente,
Nosso poema após estarmos fronte a fronte?
Amo-te, ainda, e esta máxima me importa,
E só por isso me recordo plenamente,
Do que nos fez nos arriscar nessa aventura,
De se lançar sem refletir, nesse oceano.
Infelizmente, o “todavia” também surge,
Ao me mostrar o que meu sonho me tapava,
Ao ver corais, esponjas, Nemo’s, fascinado
Não percebi os tubarões que me espreitavam.
Como termino este poema sobre nós?
Se sobre nós já não existe mais certeza?
Fosseis perdidos nesta lama em que me encontro,
Que não completam o cladograma, deprimente.
O que falar se sobre nós é só presente?
Se o passado se tornou campo minado?
Se olhar pra ele é perceber, tão abismado:
Estamos no segundo andar de um lugar sem fundação.