Morte e vida Melanina

Yuri Silva
Entretantos incertos
2 min readJun 6, 2020
Foto de lalesh aldarwish no Pexels

O meu nome é estatística.
E mesmo com certidão de vida,
Minha alcunha me é negada:
Sou só preto pra polícia.
E se somos “negros sujos”
Nos B.O’s de cada dia,
Outros nomes nos são dados:
O local da delegacia,
Nosso Morro, ocupado
A nossa periferia.

Nem vivi a triste história
Sem o “e” de fantasia,
Da minha “bisa” africana,
Da minha linhagem esquecida.
Nos cafés ou nos açúcares
Que adoçam a branca vida,
Onde negra, a mão de obra
E a matemática nascida,
No chicote do açoite,
No estupro e na sangria.

De Wakanda, quase nada
Só a dor que “mereciam”
Pretos, velhos e sem alma,
Para um Cristo que sorria.
Nos Palmares, escondidos,
Os Zumbis que resistiam;
Tiradentes questionavam,
O Poder da Monarquia,
Onde brancos, tanto rugem
Cabe aos pretos, a afasia.

Com o trabalho acabado,
E o crime da Anistia,
Tentaram tornar mais branco,
O manto de pele, minha.
Chamaram-na de progresso,
Mas só dor ela escondia,
Europeus com sua tarefa,
E a maldita Eugenia,
Ó Darwin, porque deixastes
Deturparem o que dizias?

E dos brancos que “nos salvam”
Por nos darem o tal Batismo,
Ganhamos democracia,
Morremos com oitenta tiros.
Atingidos por engano,
Tantos corpos melaninos,
Que se igualam na Normal
Onde a miséria é o pico,
De quem não vence na vida,
E não morre por racismo.

E se somos atrevidos,
Nos vestindo de ativismo
Marielles nos tornamos
Nas mãos dos reais bandidos.
Disfarçados de Polícia,
Presidentes, ou seus filhos
Ligando milicianos
E laranjas como amigos.
Acobertando massacres,
Juízes viram Ministros
.

Será que temos um corpo,
Ou somente ato político?
De uma vida de labutas,
Contra opressão e racismo?
Que é tudo o que podemos,
Deixar para nossos filhos
Entre a herança de Mendel,
Às mazelas do Nazismo,
Onde tranças são selvagens,
E fuzis, “evoluídos”.

E se somos estatísticas,
De tonalidades distintas,
Morremos da morte igual
Que é à paleta, oferecida
Quatro tiros na cabeça,
Ou oitenta na corrida,
Sufocados em joelhos,
Da opressão branca, eugenista,
Sem conseguir respirar
Nem mudar a cor, retinta.

Entre Ágathas e João Pedros,
Ou Dandaras esquecidas,
Tiradentes e Zumbis,
Dragões do Mar, ativistas,
Nosso sangue banha a terra,
E colore a nossa lida,
Na dor que nos dá coragem,
No medo que nos intriga,
A lutar pela existência
Da cor, do amor, da vida.

E a morte é um homem branco sofrendo racismo reverso.

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