Sobre unhas e corações

Yuri Silva
Entretantos incertos
2 min readMay 6, 2021
Photo by Kat Jayne from Pexels

Roí as unhas de novo. Logo quando elas já estavam crescendo direitinho, lixadas, esperando o corte programado.
Estraguei tudo, contei sentimentos, expus problemas que ficariam extremamente bem, caso continuassem guardados na minha gaveta obscura. Falei de mais, como sempre, e só consigo pensar no quanto eu sou expert em destruir os relacionamentos e as unhas.
Roí, junto às cutículas, esperando uma mensagem, um sinal, um contato, teu, ou de qualquer parte do mundo, um convite para fazer parte de algo além da minha cabeça confusa, das minhas explosões espontâneas, que acabam com as unhas e destroem corações.
Nem sei o porquê de não ter superado minhas garras, ou de não conseguir me controlar e deixar que as coisas fiquem bem de novo. Talvez eu só precise de um tempo para surtar, o arrependimento de precisar roer o resto para igualar a situação da mão inteira. Quem sabe assim as coisas possam crescer de novo, dessa vez iguais, dessa vez na esperança de não acabarem jogadas fora pela boca de um ser humano confuso e compulsivo.
Ou talvez eu só precise de medidas drásticas, a pimenta que os pais passavam para evitar que fizéssemos de novo, o risco de atingir outras partes do corpo como preço do abandono de hábitos desnecessários.
Ou talvez, no fundo, o problema não sejam as unhas, ou o amor, ou o ato de estragar tudo isso: Freud que explique os meus porquês, ou auxilie a psicóloga, prestes a estar cansada de me ouvir.
Até lá, talvez eu continue com o hábito de estragar as unhas e os relacionamentos, embora o primeiro pareça ter mais chances de conserto, e o segundo seja a fé básica de permanecer unido ao outro, mesmo fragmentado em seus próprios pedaços.
Diferente de unhas (postiças), corações não se colam com super bond.

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