Vale a pena escolher viver?

Yuri Silva
Entretantos incertos
2 min readJun 2, 2023

Talvez. (Fim do texto)

Foto de Frans van Heerden (Pexels).

Numa conversa no Whatsapp, me peguei pensando em como argumentar o quanto vale a pena continuar tentando vencer os próprios monstros e seguir em frente, mesmo aos trancos e barrancos. Decidi me recolher ao silêncio, não apenas por não me sentir confortável para discorrer sobre o assunto, mas porque não saberia o que responder.

A vida não tem nada a nos oferecer. Nada de concreto, na verdade. Por mais clichê que isso seja, escolher viver não é garantia de uma vida plena e feliz. Não sei se por uma visão religiosa, pensamos que depois da tempestade, vem o arco-íris, a bonança, o galardão ou seja lá como chamamos as situações boas. É claro, existem períodos mais conturbados, mas no fundo, nossa vida é um grande casamento de viúva (ou raposa, ou espanhol): Chuvas e sóis, ininterruptos.

Encontramos dores em cada esquina, e amores; e amigos, e inimizades; e contradições (este item não possui um contraponto, desculpem). Encontramos pessoas dispostas a nos ouvir, e pessoas também dispostas a nos ouvir, só que para nos julgar. Pessoas estenderão suas mãos para nos puxar do penhasco, outras também estenderão, e soltarão quando nos agarrarmos. Pessoas nos amarão pelo que somos e significamos para elas, e outras no odiarão pelo mesmo motivo.

Escolher viver é justamente aceitar essas contradições e tentar usar tudo ao nosso alcance para tirar um saldo positivo. É tentar encontrar o melhor ponto de vista, e possivelmente assisti-lo se tornar um lugar desfavorável, e então buscar uma nova posição. Escolher viver é escolher lidar com tudo o que vem, mesmo quando tudo parecer turvo, mesmo quando tudo parecer um quebra cabeça impossível de resolver, mesmo quando nos sentimos paralisados diante de perguntas sem soluções.

Escolher viver é escolher aprender. Mesmo que constantemente nos sintamos como crianças inexperientes. Mesmo constantemente lutando contra monstros maiores que nós. Mesmo presos num labirinto, sem sol e sem saída. Nossos olhos se acostumarão com a escuridão, e mesmo que seja possível que jamais escapemos, aprenderemos a viver com o que nos rodeia.

Escolher viver é escolher viver. Escolher passar por incertezas na esperança de que um dia elas se tornem reflexões, esperar que possamos olhar para o passado com um ar de sabedoria, enquanto lutamos com novos monstros. Escolher viver é escolher escolher. Todos os dias, diversas possibilidades. E quem sabe, nesse processo, ser feliz, e triste, e os dois ao mesmo tempo.

Escolher viver quase sempre vale a pena. É sobre aproveitar o sol enquanto dança na chuva. E o felizes para sempre deixamos para as parlendas — Bom casamento aí, dona viúva!

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