Comparação, Foco e Distorção

Reck
Entretenimento para Casuais
3 min readJan 11, 2014

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Eu posso considerar a comparação da forma mais boba possível caso isso seja do meu interesse. Pegar uma maçã e dizer que ela é tão vermelha e brilhante quanto a Ferrari do meu vizinho. Óbvio, é difícil imaginar uma simples maçã no mesmo patamar de importância de uma Ferrari e equiparar suas utilidades, ainda que, das diversas características que elas apresentem, duas se destaquem como semelhantes, por mais insignificantes que sejam essas características. Talvez o exagero parta do fato do meu vizinho não ter Ferrari ou de eu ter visto uma maçã como essa que eu descrevi só em desenho animado, mas o conceito é esse.

Eu gosto de comparar coisas e isso independe muito de fazer algum sentido ou não. Meu exercício de comparação preferido é tentar achar versões nacionais de pessoas famosas internacionalmente e vice-versa. Imaginar que o Malvino Salvador seria a versão brasileira do Jason Statham, Débora Falabella sendo a Ellen Page ou a Natalie Portman brasileira e por aí vai. Se me perguntarem quais os pontos e características dessas determinadas pessoas que me fazem associá-las, eu não saberei dizer. Não existe um critério. Ou é a primeira coisa que me vem à cabeça, ou é a que se encaixa de alguma forma sem motivo algum além da sensação de harmonia. Assim como eu faço isso, outras pessoas também fazem esse tipo de associação sem critérios para os mais diversos tipos de coisas. Dizer que um determinado filme que acabou de sair é o novo 2001 do Kubrick, a banda que tá surgindo é o novo Stones, etc. Alguns fazem na empolgação, outras na ingenuidade, alguns poucos na maldade ou vontade de avacalhar mesmo. Talvez até tenha quem fale com propriedade e tem muita prosa pra defender isso caso alguém conteste.

Em alguns casos, nessas comparações que estão em meio a tantas outras ideias e opiniões que circulam em volta do assunto do momento, uma mão vai em movimento muito bem pensado, auxiliado à possível preguiça, puxar a tal comparação boba para o centro das atenções, que passa a ser foco da crítica e até poderá ser a causa da impressão final, passando a ser julgado mais pelo que não é (e talvez nunca almejou ser) do que pelo que realmente é. O filme, série, livro ou jogo passa a ser julgado com base nessa ideia de comparação que pode até ter ido parar na sua pauta por ser uma ideia compartilhada por um grande público, como também pode muito bem ter sido um comentário avulso num vídeo do youtube e ele achou propício trabalhar todo o seu ponto de vista em cima disso. Aí surgem as frases celebres como “dizem que é o novo (obra conceituada aqui). Mas será mesmo?”, “não chega aos pés do (sucesso de 20 anos atrás)” e a minha preferida “não acho que é tudo isso que dizem”.

Esse tipo de julgamento, eu vou encontrar desde um tweet com dois favs até o vídeo de novidades do semestre de um portal da internet especializado em filmes. E, pra falar a verdade, não precisa nem ser em relação a comparações. Informações serão corriqueiramente distorcidas de alguma forma para sustentar um ponto de vista predeterminado, assim como vai ter quem caia na propaganda negativa e até mesmo quem entenda o teor propositalmente desconstrutivo e compre a ideia também para ser do contra. E, é claro, tem também os que percebem tudo isso e um poucos que não vão conseguir deixar de comparar esse artifício com a mania daquele seu amigo que, sempre que vai contar uma história e vai falar o que uma outra pessoa falou, faz uma voz forçadamente chatinha para menosprezar o seu ponto de vista.

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