One Punch Man

Reck
Entretenimento para Casuais
5 min readDec 19, 2015

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Por mais simples que seja, já percebeu o quão bom é Road Runner Show? Cada episódio é uma série de sketchs que basicamente brincam com ação e reação ou expectativa e realidade. É engraçado que, quando você vê uma rocha um pouco mais colorida e viva que o resto do cenário, já sabe que ela será um elemento presente no desastre que está se construindo. Aí que entra a parte que eu gosto bastante que é como se manifestam os acidentes com o Coyote. A perspectiva de queda de um desfiladeiro, a sensação de impacto das enormes rochas, o prolongamento exagerado do acidente, etc. Uma repetição de tortura e sofrimento que faz você ter certeza que o Deus que ordena esse universo odeia muito Willy E. Coyote. Não dá pra imaginar The Road Runner Show fora do ambiente dos desfiladeiros rochosos.

Bem, o texto não é exatamente sobre isso, né? Vamos tentar começar de vez e depois a gente retoma esse ponto.

Não costumo meter perspectiva pessoal demais em textos desse tipo mas, nesse em questão, será inevitável. Você certamente conhece a lógica de ter um anime e um mangá com a mesma história acontecendo. Mangá faz relativo sucesso ou mostra potencial e ele acaba sendo animado. Enfim, o que quero dizer é que, geralmente, não acompanho a mesma história em duas mídias. Se estou lendo o mangá, não tem porquê ver o anime. Parece perda de tempo pra mim. Se um é melhor que o outro, vou no que é melhor e pronto. Tem algumas exceções, como o anime de Hunter x Hunter mais recente e as sagas animadas de Jojo’s Bizarre Adventure. Em ambos os casos, a vontade de acompanhar em anime já tendo visto a mesma história em mangá se resume em “Como que isso vai ficar em um anime?”, ou melhor, “É possível isso ser passado para o anime da mesma forma que foi apresentado no mangá? Será fiel? Se não for igual, ainda será bom?”. Nesse grupo da exceção entrou recentemente o anime de One Punch Man, mas por uma razão um pouco mais além disso.

Por mais simples que seja o mangá de One Punch Man, existem maneiras variadas de você defini-lo. A minha preferida é “um mangá que simula cenas de ação absurdas de animação em páginas de mangá”. Isso ocorre através de uma sequência de páginas que constroem a sensação de um único movimento, como se fossem frames de um vídeo. Tem vezes que praticamente o capítulo inteiro serve para esse tipo de cena.

Essa virou uma das grandes marcas do mangá e contribuiu para a sua fama mas também acabou criando uma ideia de limitação da franquia.

Essas cenas de ação no mangá tinham uma riqueza de detalhes e complexidade de movimentos que dificilmente se vê na maioria dos infinitos animes que aparecem e desaparecem no decorrer das temporadas com suas produções apresentando certo limite técnico. Isso criou a sensação do tão improvável anime de One Punch Man, como pensávamos antigamente.

— Já pensou um ANIME de One Punch Man?

— Seria ótimo mas duvido muito acontecer.

E, bem, não é que saiu o anime mesmo? Vejam só, um anime de um mangá que simula um anime. Isso por si só já faz valer a pena tentar acompanhá-lo mas a melhor parte ainda estava por vir.

Cada episódio é uma verdadeira provação porque as cenas de ação no mangá são de um nível em que você inicialmente não vai botar fé que elas sejam reproduzidas num anime desse porte com fidelidade, o que faz com que você, leitor do mangá, acompanhe o anime praticamente para fiscalizar a produção, comparando com a história representada nas páginas e, ao final do episódio, ter aquela sensação de “Sim. É possível. Quem diria, hein?”. Esse sentimento de realização em ver o anime ser fiel ao mangá é que faz valer a pena acompanhar essa mesma história em duas mídias.

Ainda assim, você que não acompanha nenhuma das mídias de OPM deve se perguntar “Tá. Fora isso, qual é a graça de acompanhar um anime que o protagonista é invencível? Que história dá pra desenvolver desse jeito?”. Sobre isso, sempre gostei de pensar que assisto One Punch Man com a pretensão de quem assiste um episódio de Papa-Léguas.

Você não assiste Papa-Léguas exatamente pelo desenvolvimento de uma história. Assim como o protagonista Saitama, o Papa-Léguas é inalcançável e imbatível, enquanto o Coyote sempre irá perder. Só que, entre o início do plano do Coyote e o momento em que tudo dá errado (e você sabe que irá dar errado), existe algo sendo construindo que lhe prende a atenção. One Punch Man é basicamente esse momento.

Quando leio ou assisto OPM, não importa o que está acontecendo num geral ou qual a relevância disso posteriormente para a história. Só quero que isso seja prazeroso em acompanhar. Cada detalhe. É incrível a sensação que esse mangá passa de que cada quadro da página valeu a pena, não importando se é um quadro inteiro de cena de ação desenhado com imenso detalhe, uma simples expressão facial ou um alívio cômico rabiscado. Esse nível de satisfação nos detalhes bobos bem construídos eu não sentia desde Os Incríveis.

Estou escrevendo esse texto antes do episódio mais esperado por mim, onde o Saitama leva um golpe tão poderoso que vai parar na lua. É isso aí. Tudo que eu quero ver nesse episódio é um cara sentado na lua vendo a Terra. Não sei se consegui passar no texto o quanto essas pequenas bobagens tem relevância pra mim e para tantos outros que compartilham desse sentimento, mas foi gostoso tentar explicar.

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