Como é cruel (e bonito) que a vida continue sem você

Ana Luísa Bussular
Entusiastas
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2 min readMar 1, 2018

Quem disse isso foi Tatiana Salem Levy, e quem me conhece sabe que eu sou uma quotista ambulante. Isso porque eu adoro citar pessoas que conseguem dizer exatamente aquilo que eu penso e não consegui.

Fez um ano nessa segunda-feira, dia 26 de fevereiro, que você tirou todo mundo da folia de um domingo de carnaval porque a vida tinha tirado você da gente. Assim, sem mais nem menos. Pedro Bial já disse num texto que a morte é uma piada de péssimo gosto, e eu concordo. Mas concordo também que assim como alguns infinitos são maiores que outros, algumas mortes são mais de péssimo gosto que outras, e a sua foi uma dessas.

Até hoje, quando penso, não consigo acreditar que menos de 24h antes eu tinha visto, na sala, com meus amigos, um vídeo seu, praticamente ao vivo, pulando e fazendo presepadas na sala, puxando um carrinho com um celular em cima e chamando de trio elétrico. No início da tarde do dia seguinte minha mãe me ligou para avisar que você não estava bem, numa péssima tentativa de fazer o barro pegar. Ela é uma péssima atriz, só não queria me contar assim, sem mais nem menos, que você já não estava mais aqui.

Aquele domingo de carnaval, em conjunto com a eterna segunda feira que o seguiu, foi combo de dois dias bizarros que pareceram um só. Foram horas intermináveis de um velório no qual ninguém conseguia acreditar. Até hoje, como disse, eu não o consigo. Tão novo, tão divertido, tão inesperado, a cereja do nosso bolo, quem deixou isso acontecer, e se tivessem visto antes, e se ele tivesse avisado, e se tivesse e se e se e se. E se: advérbio de merda, como dizem por aí. Nenhuma conjectura pode nos trazer você de volta.

É bastante cruel a vida continuar sem você. Ela me parece ridícula com essa afronta, como pode insistir em seguir sem suas piadas, sem suas batatas fritas, sem sua alegria? Ao mesmo tempo é bonito. Porque isso é a vida. Mesmo quando é assim, de péssimo gosto, ela dá um jeito de se reerguer — mesmo quando falta um pedaço, mesmo quando a gente está com vigas a menos. Ela segue, ela continua, e a gente segue com ela. É bonita e melancólica, essa resiliência. Nos resta pensar que você ficou bem, que está bem e que a poesia da vida um dia também continuará seguindo sem cada um de nós. De uma forma cruel; de uma forma bonita; da única forma possível.

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Ana Luísa Bussular
Entusiastas

Jornalista aspirante a escritora e editora, passa o dia querendo ler e escrever. https://medium.com/entusiastas