Desculpe o transtorno, mas estou em construção

Taryne Zottino
Entusiastas
Published in
4 min readFeb 20, 2018
“Ninguém se sente como um adulto. É o segredo sujo do mundo” — Liberal Arts

Estou passando por um processo muito grande de transformação interna e repensando absolutamente tudo: minhas escolhas, meus objetivos, minha carreira. Sempre pensei que, aos 26 anos, as coisas estariam mais ou menos construídas — dentro e fora de mim — , mas a verdade é: nunca me senti tão “em construção” como agora. E estar vivo significa estar sempre em construção, dizem por aí, mas ninguém fala sobre o quanto isso é assustador, ainda mais quando você é adulto e todos esperavam que já tivesse colocado alguns edifícios de pé.

Há 10 anos me pediram para decidir o que eu seria para o resto da minha vida. E existe pergunta mais injusta para se fazer a um adolescente que mal conhece a tal “vida”? Se você definiu isso com precisão aos 16, 17 anos, você teve sorte. Ganhou três loterias. A de saber, a de continuar tendo certeza e a de ter realmente se encontrado nisso dentro do mercado de trabalho. Nem sempre as coisas acontecem dessa forma e, apesar de ter demorado para aceitar, comigo não foi assim.

Eu escolhi e não me arrependo, só gostaria de ter tido mais tempo, mais visão do todo, gostaria de ter andado com os sapatos de quem sabia a realidade dessa profissão. Queria que alguém tivesse me “dado a real”, queria ter visto um pouquinho mais desse mundo antes de ser jogada nele. Talvez assim percebesse outras coisas e cogitasse outras possibilidades.

Hoje eu sei que gosto de me comunicar, mas nem tanto de “fazer Jornalismo”. Gosto de olhar nos olhos das pessoas e conhecer suas histórias me importando verdadeiramente com elas, não da adrenalina de publicar uma matéria antes da concorrência. Amo usar minha facilidade com a escrita para fazer as pessoas se identificarem, se encantarem, sorrirem. Gosto de estar presente no meu texto e não de elencar fatos dentro de uma estrutura pré-estabelecida. Posso fazer esse tipo de coisa (mais humanizada, digamos assim) estando no Jornalismo, porém as oportunidades são muito raras.

Sabe o que eu amo de verdade? As palavras. Desde pequena. Lembro da ansiedade para aprender a ler, da curiosidade enorme, da vontade de transformar letrinhas em frases, em histórias. Eu lembro até de fazer caligrafia nas férias para ter uma letra bonita e dar às palavras a beleza que mereciam ter. A Literatura é tão importante para mim porque ela me salvou e continua salvando. E meu maior desejo nesse mundo — a minha missão, talvez — é fazer com que livros encontrem as pessoas. Quero tentar mostrar a elas a magia que vejo surgir em um simples virar de páginas.

Gostaria de fazer algo para que as pessoas não tivessem tanto medo de ler e de escrever, gostaria que essas atividades não fossem colocadas em um pedestal e elitizadas. Uma vez escrevi um textinho bobo chamado “Alice no País das Palavras”, no qual eu descrevia “meu país das maravilhas” como um país de leitores. Gosto de imaginar como seria e não estou nessa vida para deixar de sonhar, mas já estou bem grandinha e levei muito na cabeça para ainda ter ilusões sobre mudar o mundo. Vivemos em prisões e elas nos impedem a todo momento. Sei que sou apenas uma gota no oceano, mas a questão é exatamente essa: eu quero ser a gota.

Estou aqui.

A menina que roubava livros sou eu.

Minha história não acabou.

Posso reescrever.

Essa história…

As palavras.

As que odiei e amei.

As palavras salvaram minha vida

— Liesel Meminger, em A Menina Que Roubava Livros

Fico repetindo para mim mesma: o conhecimento é a única coisa que ninguém pode nos tirar. O conhecimento que ganhamos e aquele que passamos para os outros. E eu finalmente entendi que posso ser uma ponte, estar no meio do caminho antes de alguém atravessar e seguir para o próximo passo. Não vou afirmar nada sobre os meus planos por enquanto.

Como eu disse, estou em construção, separando os tijolinhos aos poucos, morrendo de medo, tomada por incertezas, me perguntando o porquê de nunca escolher o caminho mais “seguro”. Seguindo. Afinal de contas, o meu mundo eu posso mudar e isso só depende de mim. Tem sido difícil e tem me deixado meio louca, mas preciso respeitar minha construção e não ficar me comparando com os edifícios bonitos dos outros. Estou “em obras”, estou em andamento e tá tudo bem.

“Esse é o porquê de não haver razão para ter medo, porque tudo está bem” — Liberal Arts

P.S: A autora achou que não seria uma má ideia terminar esse texto com uma foto do Zac Efron dizendo que está tudo bem. Só pra dar mais um incentivo.

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Taryne Zottino
Entusiastas

Lê e escreve como uma forma de experimentar a vida duas vezes // IG: @tarynedisse