Diário de uma manteiga derretida: junho de 2018

Sofia Soter
Entusiastas
Published in
4 min readJul 5, 2018
Imagem do primeiro episódio da segunda temporada de Queer Eye.

Comecei junho em Berlim e acabei em São Paulo, com um meio de mês esmagado entre a ressaca de uma viagem e a expectativa da outra, cheio de trabalho, de planos, de gente. Uma das coisas que mais me deixa pronta para chorar é exaustão — o cansaço me desestabiliza e a última gota d'água para o choro começar pode vir a qualquer momento. Junho foi um mês cansativo; foi, portanto, um mês de lágrimas.

4/6: Em Berlim, chorei tentando discutir em inglês com o cobrador do tour de sightseeing, que me mandava de um lado para o outro tentando imprimir uma passagem que o site dizia que eu podia só mostrar no celular. A dificuldade de comunicação (eu sem saber alemão, ele arranhando o inglês), o calor, a fome e o estresse que me acompanhou por parte da viagem explodiram em lágrimas que duraram mais do que eu gostaria.

9/6: Só chorei de novo na volta, fazendo a conexão no aeroporto de Paris. Originalmente, minha conexão era por Frankfurt, mas meu voo foi cancelado repentinamente e encontraram um espaço para mim no mesmo voo dos meus avôs, Berlim -> Paris -> Rio. Pensei, na hora, na Anna Vitória dizendo que "o Segredo é real", como se meu desejo profundo por Paris tivesse me arrastado para lá pelas poucas horas de minha conexão no aeroporto. Respirei o ar quente saindo do avião, comprei meus caramelos preferidos da infância e um croissant, falei francês com desconhecidos e, sentada perto do portão de embarque, chorei um pouco, discreta, sentindo Paris até os ossos.

9–10/6: Chorei no avião, na madrugada de um dia para o outro, começando a dormir. Só um choro leve, que me embalou ao sono. Estava, já, com saudades da minha irmã, que deixei em Berlim. Estava, já, com saudades de Paris, que eu só sentira por tão pouco tempo, tão poucas horas. Estava, também, exausta.

10/6: Não dormi muito no avião e cheguei em casa cedo demais, cansada demais, perdida demais. Mesmo depois de um cochilo, acabei chorando à tarde no sofá, com fome, cansada, sem conseguir me localizar emocionalmente no Rio de Janeiro, no meu apartamento, tão sozinha. No começo da noite, chorei mais uma vez, abraçada com minha mãe no banco de trás de um táxi, despejando frustrações pequenas que, na mente exausta, viraram enormes.

11/6: Não seria um mês normal se eu não chorasse por Buffy pelo menos uma vez. Conversei pelo Twitter com a Gih sobre "Prophecy Girl", o último episódio da primeira temporada, e acabei procurando no Youtube a cena mais trágica, em que Buffy, sempre tão forte, mostra sua fragilidade e humanidade e diz que é nova demais para morrer. Chorei, claro.

12/6: Um texto da Sarah Gailey me pegou de surpresa e me levou ao choro. Li uma vez, chorei. Li de novo, chorei. Li uma terceira vez, até as lágrimas acabarem. "I never thought I would live this long. Most of my life has felt like borrowed time. You’ve only got a couple of years left at the most, I told myself, and it felt true, because I knew how my story went. Short and heartbreaking and before too long, over."

17/6: Acompanhei a primeira (e única) temporada de Life Sentence pelos últimos meses. Foi uma série de comédia dramática sobre família e relacionamentos, que me dava um quentinho no coração toda semana. No último episódio, estruturado para máximo impacto emocional, chorei.

18/6: Depois de um fim de semana com hóspedes em casa e muitas programações, tive um dia meio doente, meio de ressaca, meu corpo se revoltando contra a quantidade de massas e vinhos à qual eu o submetera. Nesse estado, li alguns textos sobre Dia dos Pais no Autostraddle chorei, especialmente com "Before You Know It Something's Over".

23/6: A segunda temporada de Queer Eye chegou na Netflix e, é claro, me fez chorar. Logo o primeiro episódio já me deixou aos prantos, começando com a cena em que Tammye e Bobby conversam sobre suas relações com a igreja.

25/6: Com certeza chorei com os outros episódios de Queer Eye que vi do dia 23 ao dia 25 e falhei em registrar. O único outro registro que tenho é sobre o episódio focado em Skyler, um homem trans, que acaba conhecendo seu ídolo, Todrick; no momento em que eles se encontram, chorei e chorei e chorei.

25–26/6: Acordei às 4h30 de um pesadelo horrível, em pânico, chorando. Não conseguia criar coragem para sair da cama, para me mexer, para levantar, para voltar a dormir. Busquei conforto na internet e acabei acalmada (e emocionada) por este artigo.

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