Diário de uma manteiga derretida: maio de 2019

Sofia Soter
Entusiastas
Published in
2 min readJun 1, 2019
A vista da varanda.

Escrevo o diário de maio em uma linda varanda em um lindo hotel com uma linda vista, escutando música triste e tentando entender um sentimento que me tomou na última semana do mês e que não consigo mandar embora. Esse sentimento — um humor estranho, uma melancolia, uma ansiedade, algo que toma muitos nomes até que eu consiga descrevê-lo corretamente — permeia o texto de hoje, porque não tem como não permear.

14/5: Comecei a praticar yoga em maio e descobri que, por mais exigente que a aula seja, nada me causa tanto desconforto quanto a shavasana, postura de relaxamento na qual ficamos por uns dez minutos ao final da prática. Deitada de costas no chão, de olhos fechados, com os braços estendidos e as palmas viradas para cima, deixei escorrer algumas lágrimas pensando sobre vulnerabilidade e entrega.

23/5: Escrevi minha autoentrevista para a newsletter Buraquinha e, depois, me senti esvaziada, melancólica, sozinha. Não conseguia me concentrar no trabalho, então deitei no sofá, me embrulhei no cobertor e chorei vendo um pouco de The Chilling Adventures of Sabrina.

24/5: Na terapia, falando de saúdo, corpo, vulnerabilidade (notem o tema recorrente). Chorei de soluçar, de ficar zonza, de quase levar a caixa de lencinhos da terapeuta embora comigo.

26/5: Acordei com um humor esquisito, ansiosa, irritadiça, triste. O dia inteiro assim, tentando seguir em frente, mas à noite não aguentei. Deitei para dormir mas chorei com um nível de desespero que há muito não sentia, um choro sufocante e assustado, que finalmente me embalou.

28/5: O humor do dia 26 se prolongou, mudando para uma melancolia frágil. Chorei de novo na shavasana da yoga.

29/5: Ainda o humor estranho, de novo um pouco mais ansioso e irritadiço, que me fez chorar um pouco no banho.

31/5: Em Minas Gerais, com toda a minha família reunida para comemorar os 80 anos da minha avó. A melancolia persiste. Senti tristeza e fui imediatamente tirada dela pelos três bebês da família, sorrindo e abraçando e brincando; chorei um pouco, então, de puro e sincero amor pelos meus priminhos.

--

--