Fugindo do silêncio
Não sei quanto a vocês, mas eu fujo um pouco do silêncio. Ele pode ser bem assustador, considerando a agitação da minha mente ansiosa. São preocupações sobre coisas que nunca aconteceram e nunca vão acontecer, os piores cenários possíveis sendo criados e uma insistência masoquista em ser maldosa comigo mesma. Tudo isso casa perfeitamente com o silêncio, especialmente durante a madrugada, quando todos dormem e minha cabeça se torna um lugar perigoso demais para habitar.
Por isso tenho gostado tanto da distração. Para evitar ficar sozinha com meus pensamentos, escuto minhas canções favoritas durante o banho, assisto vídeos até cair no sono, tenho conversas pessoalmente ou pela internet, faço maratonas de filmes e seriados. Mesmo a leitura, essa atividade solitária e quieta, precisa ser acompanhada por música clássica. Tenho sentido muito medo de deixar brechas para o silêncio trazer consigo as crises, as tristezas, as dúvidas.
Mas isso não é uma regra. Sempre fui entusiasta da quietude. É por esse motivo que amo tanto os dias frios e chuvosos, quando as pessoas serenam, ficam meio sonolentas, falam mais baixinho. Há uma melancolia no ar bem diferente da onda de desordem típica do calor, mas consigo ver beleza nisso. Queria voltar a apreciar os silêncios dos dias mais frescos e todos os outros. Queria conseguir me desconectar de todos os barulhos e distrações externas para entrar em contato comigo mesma sem medo do que vou encontrar. Olhar para o céu, como eu costuma fazer, adivinhando os desenhos das nuvens, totalmente despreocupada.
Até lá, enquanto me cuido e respeito meu tempo, agradeço por tantas possibilidades de sons para me confortarem nos momentos em que estou fugindo do silêncio. Coloco os fones nos ouvidos, escolho uma canção, um filme, ou um vídeo. Tento ter paciência com as fases da vida, tão diferentes uma da outra, deixo as vozes me acalmarem e sigo.
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