Imagem da animação Frozen

Minhas bonecas de porcelana

Ana Luísa Bussular
Entusiastas

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Eu e minha irmã sempre tivemos muitas bonecas. Sei lá se por natureza, por criação ou por uma casual junção das duas coisas, crescemos como meninas bem “padrão de feminilidade”. Por anos, meu sonho dourado de brinquedo era uma tábua de passar roupa — e eu não acho que a gente deva encher nossas meninas como esses brinquedos, mas o fato é que comigo tá tudo bem, inclusive detesto passar roupas. Mas hoje eu vim falar das bonecas de porcelana mesmo.

Porque as nenéns da estrela, as Barbies, as Pollys, todas elas variavam de nome e personalidade conforme a brincadeira. As bonecas de porcelana não. Eram todas batizadas, tinham árvore genealógica e personalidade muitíssimo bem definida. Essas a minha tia comprava pra gente na banquinha, toda semana, e mandava pelo correio de quando em quando. Quando a gente já sabia que vinha uma nova, começávamos a pensar nos nomes. A personalidade vinha quando a gente via o rosto mesmo.

Parece doideira. Elas ficavam guardadas numa caixa, e a gente sempre pegava pra brincar (porque lá em casa brinquedo sempre foi brinquedo, e nunca decoração), mas elas sempre eram as mesmas e a brincadeira seguia toda uma rotina. (In)felizmente elas foram, aos poucos, se deteriorando. Lembro da Bárbara, coitada, uma das única negras. Usava um elegantíssimo vestido vinho e era uma das alunas metidas. Acabou com um braço quebrado. A Carolina, quando perdeu seu chapéu, revelou uma assustadora careca. Alguma delas perdeu também um pedaço da perna. Os bonecos meninos vinham em bem menos quantidade, e era difícil definir quem seriam suas namoradinhas, mas a Angélica namorava o Bernardo porque os dois tinham roupas de marinheiro e isso pareceu uma excelente justificativa.

Hoje me deu saudade. Saudade das tardes rolando no carpete com todas aquelas bonecas e suas histórias. A Mirella era esnobe, mas era irmã mais velha da doce Aline. A Sara e a Suellen também eram irmãs, e tinham roupas muito delicadinhas. A Mila era leiteira, a Dulce Maria esquiava e eu fazia bullying com a Graziela porque ela não era da mesma coleção: ela era uma boneca de porcelana horrorosa que minha irmã arrumou e enfiou no meio da galera.

Esse texto pode não fazer sentido pra ninguém, mas até hoje quando eu vejo uma dessas bonequinhas sendo vendidas na banca junto com uma revista eu penso se elas estão sendo tão felizes na casa dos outros quanto foram na minha casa. Fui criada com Toy Story, me deixem. ❤

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Ana Luísa Bussular
Entusiastas

Jornalista aspirante a escritora e editora, passa o dia querendo ler e escrever. https://medium.com/entusiastas