Quando o amor não pode ser vivido

Taryne Zottino
Entusiastas
Published in
3 min readJul 1, 2020
Hot Priest e Fleabag entendem o que eu quero dizer

Encontrar alguém que tem tudo a ver com você e se dar conta de que essa pessoa jamais vai poder ser sua é uma das situações mais delicadas que existem. De repente, nós criamos uma conexão bonita — algo único, especial — e isso nos enche de uma expectativa impregnada de esperança. Mas existem empecilhos muito reais e passamos a nos perguntar o que aconteceria se o timing fosse melhor, se os caminhos tivessem se cruzado em outro momento, se as escolhas tivessem unido em vez de distanciar. Acreditar que estar junto é apenas uma questão de disposição é simplificar o que há de mais complexo: a vida. Ah, a vida. A vida atropela, a vida muda, a vida acontece.

Por isso nos identificamos tanto quando a arte apresenta personagens aparentemente “perfeitos um para o outro” vivendo relações complicadas, que não fazemos a menor ideia de como vão terminar (spoiler: provavelmente, não do jeito que a gente quer). Em Fleabag (Amazon Prime), a protagonista se apaixona por um padre. E esse fato já nos diz quase tudo sobre o porquê de eles não poderem ficar juntos. Já na segunda temporada de Master of None (Netflix), Dev se apaixona por Francesca, que tem um noivo e uma vida estabelecida na Itália, enquanto ele mora em New York. É doloroso demais acompanhar esses personagens percebendo que seus interesses românticos proibidos não apenas veem as coisas da mesma maneira que eles, mas são capazes de enxergá-los como realmente são.

Boa parte de nós passa a vida à procura de alguém que nos entenda, que veja beleza até mesmo nas nossas esquisitices — como ser dona de um café com tema de porquinhos da índia ou atravessar o oceano só para aprender a fazer macarrão — , enfim, alguém para dividir as alegrias, medos, incertezas, o sofá de casa e a panela de brigadeiro em um dia frio. Mas nem sempre podemos partilhar tudo isso com aquela pessoa. Às vezes, o momento é totalmente errado. Às vezes, a vida nos afasta e a gente só consegue pensar no que poderia ter sido. E isso dói. Dói bastante. É difícil de entender (será que um dia vamos entender?) e de aceitar. Porque quando a gente se apaixona, a nossa vontade é viver esse amor até as últimas consequências.

Então é muito fácil dizer que é melhor amar e perder do que jamais ter amado quando não é seu coração ali, em pedaços. Mesmo assim, e apesar de ter virado um imenso clichê, essa frase não deixa de ser verdadeira. Não dá para pensar com tamanha clareza quando estamos infelizes, porém, quando o tempo passa, a gente fica com algumas cicatrizes e também com aquela sensação de que podemos até não ter vivido todas as possibilidades que imaginávamos, mas nos permitimos viver, abrimos nosso coração em um mundo onde a vulnerabilidade é condenada, e isso requer muita coragem.

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Taryne Zottino
Entusiastas

Lê e escreve como uma forma de experimentar a vida duas vezes // IG: @tarynedisse