Todas juntas somos forte, somos flecha, somos arco

Ana Luísa Bussular
Entusiastas
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3 min readApr 5, 2018

Ainda nos primeiros capítulos de O Segundo Sexo, Simone de Beauvoir fala de uma questão bastante expressiva dentro da luta pelos direitos das mulheres: a dificuldade da união.

Não vou me estender nem muito menos me aprofundar em assuntos teóricos por aqui, mas ela aponta esse problema como um dos causadores de grandes atrasos na luta feminina. Os operários conseguiram se unir contra a burguesia; o movimento negro tende a batalhar bastante unido; “as mulheres” já é um grupo amplo demais, que nunca conseguiu constituir um grupo tão uniforme quanto o que supostamente deveria, para alcançar a força necessária.

Isso, infelizmente, é compreensível. Quem nunca se estressou (ou até se magoou) e saiu correndo de um coletivo feminista que atire a primeira rosa ganhada no dia 8 de março. Muita gente se ataca, quer arrancar a carteirinha das outras na marra, não tem paciência pra explicar dúvidas, se recusa a entender as especificidades do feminismo vivenciado pela colega do lado. Mas também não é disso que eu vim falar.

Eu vim falar que eu também passei muito tempo da minha vida ouvindo que era melhor ser amiga dos homens, que eles sim eram leais. Que é melhor trabalhar com os homens, porque tem menos disputa. Eu ouvi durante muito tempo que a mulher do lado, por mais que fosse minha amiga, seria minha rival. E acreditar nisso é a nossa ruína. É por isso, inclusive, que batem tanto nessa tecla.

As forças do patriarcado sabem que quando a gente consegue se unir, minha amiga, é melhor sair de baixo. No dia que eu resolvi pra mim mesma que não existiriam mais desconhecidas e sim migas esperando para serem descobertas, minha postura em relação ao mundo mudou. Escolhi esse poema da Rupi para ilustrar o texto porque ele faz sentido DEMAIS para mim. Eu tenho mais vontade de ser forte quando percebo o quanto são fortes as mulheres que caminham ao meu lado, mesmo que elas nem saibam disso, mesmo que elas ainda não tenham entendido que são feministas e que a união é importante.

Desde que eu comecei a ler livros de mulheres, conhecer histórias de mulheres, comprar esses mil livros com perfis de mulheres que mudaram o mundo e, principalmente, desde que eu aprendi a olhar cada mulher que cruza o meu caminho como uma mais uma guerreira, ao meu lado, na linha de batalha, eu me sinto acompanhada. Eu sinto que eu posso mais. Nós, juntas, podemos sempre muito mais.

As mulheres enfrentam lutas que os homens nunca conhecerão e sequer são capazes de imaginar. Em seu aclamado Os Homens Explicam Tudo Para Mim, a ensaísta estadunidense Rebecca Solnit apresenta um trecho bastante marcante:

A maioria das mulheres luta em duas frentes — uma pelo tópico em questão, qualquer que seja, e outra simplesmente pelo direito de falar, de ter ideias, de ser reconhecida como alguém que está de posse de fatos e de verdades, que tem valor, que é um ser humano.

Aí ela está sendo específica ao retratar uma luta que vivemos no campo do intelectual. Mas serve pra tudo. Estamos sempre lutando por alguma coisa, pelo direito de sermos iguais, de sermos igualmente levadas em conta, em todos os aspectos — e é muito enriquecedor e esperançoso quando a gente descobre e entende de uma vez por todas que não está lutando sozinho. Todas juntas somos fortes, somos flecha, somos arco. Todas nós no mesmo barco e o patriarcado vai tremer. Ao meu lado há uma amiga que é preciso entender.

Independente do grupo de mulheres que tenho à minha volta, de suas ideias, ideologias e do meu grau de relacionamento com elas, eu sei que não estou “só” fazendo parte de um grupo. Eu estou fazendo parte de um esquadrão.

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Ana Luísa Bussular
Entusiastas

Jornalista aspirante a escritora e editora, passa o dia querendo ler e escrever. https://medium.com/entusiastas