A História Viva presente na Melhor Idade

Jornalismo UNIFAAT
Envelhecimento e Longevidade
4 min readNov 30, 2019

Projeto elaborado em Bragança Paulista busca promover interação entre crianças e idosos

Por Letícia Bueno

Em parceria com a Secretaria de Educação de Bragança Paulista, o Lar São Vicente de Paulo criou o projeto “História Viva”, que através de atividades e brincadeiras lúdicas, busca promover o contato entre os idosos que vivem no Lar, e as crianças da rede escolar municipal da cidade. O projeto é pioneiro no município, e possui um grande potencial de transformação pessoal e cultural tanto para os pequenos, quanto para os mais velhos.

Antonio Claudio foi um dos participantes do projeto — Foto: Arquivo original do Lar São Vicente de Paulo

O Lar São Vicente de Paulo possui 115 anos de história. Fundada em 1904, a entidade foi inaugurada com a premissa de oferecer assistência à população idosa. Deste modo, passou a ser administrada pela Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição, fundada pela Santa Paulina — canonizada pelo Papa João Paulo II em 2002. Hoje, a instituição provê cuidados para noventa idosos, oferecendo acomodações para momentos privativos e de convívio social com outros moradores do Lar, em um ambiente descontraído e de atividades constantes, que estimulam o bem-estar físico e mental de seus moradores.

A cientista social Larissa Carneiro integra a equipe de funcionários do Lar, e foi a responsável por dar vida ao “História Viva”. Para ela, algo que sempre chamou a atenção de todos foi a quantidade de histórias que residiam ali. “Nós temos idosos de 60 a 100 anos. Eles viveram em períodos históricos que nós não viveremos mais, e isso é uma riqueza muito grande”, contou, afirmando que os benefícios dessa intergeracionalidade são vistos na prática após as experiências.

O projeto baseia-se em levar os moradores do Lar para o ambiente escolar uma vez por mês, e de maneira alternada. Ou seja, a cada visita são escolhidos de três a quatro idosos que possuem melhor afinidade com a atividade proposta para aquele dia, como música, dança, pintura ou contação de histórias. A valorização do conhecimento e da experiência de vida deles são pontuadas para que sejam transmitidas às crianças, e dentro das escolas este projeto torna-se ainda mais interessante, pois relaciona-se com o ambiente educacional, estimulando o contato e o aprendizado.

Por enquanto, a iniciativa tem como foco principal as escolas da área rural, por se tratarem de instituições mais afastadas e que geralmente recebem menos projetos. Além disso, Larissa ressalta que esse ambiente possui uma carga cultural e de significado muito grande para os idosos do Lar, pois a maioria deles nasceu e cresceu no meio rural.

“Eles viveram em períodos históricos que nós não viveremos mais, e isso é uma riqueza muito grande”

José Benedito participou da visita mais recente realizada em agosto — Foto: Arquivo original do Lar São Vicente de Paulo

Larissa relembra que a vontade de realizar um projeto que promovesse o contato entre gerações surgiu tanto das percepções dos conhecimentos armazenados no Lar, quanto da alegria e contentamento que os idosos emanavam com as visitas das escolas do município. Assim, o formato torna-se o oposto do que já era, e ainda é feito. Ao invés das crianças irem até eles, os idosos vão até elas. E para a cientista, a experiência é uma massagem no ego deles

“Nós temos várias atividades que trabalham a autoestima, a autonomia e o empoderamento do idoso. Por isso quisemos sair da instituição, fazê-los serem os protagonistas, porque isso mexe muito com a autoestima deles”, explicou, acrescentando que esta foi uma das principais razões para o formato diferenciado do projeto. Ela ainda completa que deste modo, os idosos sentem que sua história está sendo valorizada.

A pedagoga Andréa Lins de Lima, professora na rede municipal há 25 anos, concorda com os benefícios apresentados pelo “História Viva”. Além do estimulo e da valorização dos idosos, ela destaca a importância do contato das crianças com este tema. “As crianças possuem muita energia, e esse contraponto com a calma dos idosos é muito importante. A troca de vivências, o contar de histórias da sua infância, é super válido para elas”, comentou.

Maria Pereira esteve presente na recente edição do “História Viva” — Foto: Arquivo original do Lar São Vicente de Paulo

Andréa ainda ressalta que o contato com os mais velhos é importante não só para obter essa troca, mas também para a formação do respeito da criança. Ela exemplifica que isso deve ser mantido vivo dentro da mente dos pequenos, que o respeito aos mais velhos deve ser estendido para todos eles, não importando sua posição ou temperamento. E somente assim pode-se contribuir com a construção de uma sociedade mais receptível e amigável.

Deste modo, o “História Viva” promove uma conversação entre gerações, formando uma ponte onde de um lado temos pontuado o desenvolvimento cultural das crianças, desmistificando pré-conceitos e estereótipos relacionados ao idosos; e do outro, uma forma de ocupação saudável e divertida para os mais velhos, convertendo o tempo ocioso em experiências que auxiliam tanto em sua saúde mental quanto em seu bem-estar.

Todos os participantes tiveram a oportunidade de contar suas histórias e responder perguntas — Foto: Arquivo original do Lar São Vicente de Paulo

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