Falta de preparação para aposentadoria afeta a forma de encarar a nova realidade

Jornalismo UNIFAAT
Envelhecimento e Longevidade
3 min readOct 4, 2019

Pesquisa afirma que mudanças ocasionadas pela aposentadoria acarretam em até 40% mais casos de depressão

Por Tamires Prado

Na forma de vida contemporânea, movida pelo sistema capitalista e pela felicidade baseada no sucesso profissional, a busca por uma carreira consolidada é incansável. Para tanto, em qualquer que seja a área, por décadas, as pessoas se pressionam para produzir cada vez mais e crescer constantemente em suas profissões.

Porém, pouco se fala sobre o que acontece após alcançar o que se pretendeu ao longo de toda a juventude, considerando que as pessoas vivem cada vez mais, com saúde, qualidade de vida e, principalmente, com perspectivas e desejos.

Esse novo envelhecer tem se mostrado um fenômeno inédito para todos os setores da sociedade, inclusive quando encarado de maneira individual. As pessoas não se atentaram e ainda não estão se preocupando com as incertezas que a idade traz consigo.

Dados levantados pela Síntese de Indicadores Sociais, do IBGE, demonstram que mais de 9% dos idosos no Brasil são atingidos pela depressão. Uma série de motivos tem feito com que a doença esteja cada dia mais presente na realidade da população idosa. A falta de preparação para chegar a esse momento da vida é, sem dúvida, um dos fatores.

Ao se analisar todo esse cenário, portanto, fica clara a falta de conscientização e de políticas públicas que preparem o indivíduo para encarar essas mudanças. Profissionalmente, a aposentadoria representa esse momento. De acordo com um estudo realizado pelo InstituteofEconomicsAffairs (IEA), as chances de se desenvolver depressão aumenta em 40% com a aposentadoria. O isolamento social e a falta de planejamento financeiro são os principais fatores de risco para isso.

Visando andar na contramão deste sistema, a Polícia Militar de Minas Gerais realiza, há mais de 20 anos, o Programa de Preparação para a Reserva (PPR), o qual pretende capacitar o militar para encarar a nova etapa da vida na condição de aposentado.

O Sargento PM Vanuir Pereira participou recentemente do programa e conta que os benefícios foram muitos. “Ao ser transferido para a reserva e ao deixar de cumprir com as formalidades do meio militar, após trinta anos de serviço, me senti perdido”, relata. Ele afirma que as reuniões do PPR o ajudaram neste sentido. “Com todo o direcionamento adquirido no programa, me adaptei à nova fase e ao mundo civil”.

“O PPR é realizado por meio de reuniões mensais que visam despertar e estimular o policial militar para a necessidade de elaborar um projeto para a nova etapa da vida. Para essas reuniões há um rol de palestras com abordagens variadas que contemplam aspectos médicos preventivos, atividades físicas, fatores psicológicos, contextos sociais e legais, perspectivas econômicas, entre outras”, pontua o Comandante do 59° Batalhão de Polícia Militar, Tenente Coronel PM Robison de Andrade Santos.

A falta de projetos como esse, tanto na iniciativa privada como no poder público, é factual. Em entrevista com o Analista de Departamento Pessoal da Centauro, Carlos Henrique Del Col, esse pode ser um tema a ser discutido futuramente, porém, no momento, a empresa não conta com nenhum projeto em vista neste sentido.

Adriano Carvalho fala em nome do poder público e acredita que a mudança em favor da valorização da população idosa acontecerá aos poucos

Para o Secretário Municipal de Desenvolvimento Econômico de Extrema, Adriano Carvalho, essa falta de planejamento ainda acontece pois o Brasil não desenvolveu uma cultura de valorização do idoso. Ele acredita que é possível, através de mudanças culturais corporativas e pessoais do próprio profissional, processos inovadores. “Imagine, por exemplo, um grupo de professores aposentados, criando um cursinho para alunos da rede pública se prepararem para as provas do ENEM? É algo totalmente possível”, comenta. “A mudança é cultural e precisa ser feita, mas vai acontecer gradualmente”.

Como apontado pelo filósofo Mário Sérgio Cortella, a realização deve ser pensada como uma prova de longa duração, não como uma corrida de 100 metros. Portanto, a preparação faz-se necessária e é parte fundamental da realização pessoal e consequente da felicidade, mesmo após a aposentadoria.

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