Música, ritmo e alegria: como a dança pode promover a qualidade de vida na terceira idade

Jornalismo UNIFAAT
Envelhecimento e Longevidade
5 min readSep 30, 2019

Oficina “Mix Dance” visa proporcionar longevidade a participantes do Centro de Convivência da Terceira Idade em Atibaia

Rafaela Soares

O entra e sai de pessoas no Centro de Convivência da Terceira Idade é frequente. Sentada na cadeira de espera, o cheiro de café fresco impregna o ar de forma a criar um clima aconchegante a quem quer que chegue em busca de informações, atividades ou para participar da aula de dança que acabara de começar. Meu atraso de 10 minutos não tira a beleza da cena: são cerca de 30 pessoas dançando sob comando do professor Ademir — e o número vai aumentando com o passar dos minutos. Na segunda bateria de atividades, por voltas das 8h30, o número de pessoas já é muito maior.

O projeto Mix Dance integra uma série de atividades voltadas para a pessoa idosa no Centro de Centro de Convivência da Terceira Idade “Rosa Aparecida Panzoneno”, no bairro do Alvinópolis, em Atibaia. A dança é um dos tantos recursos, entre artesanato, pintura, teatro, percussão até as atividades ainda mais complexas, como vôlei e capoeira. Mensalmente os cerca de 300 idosos participam das 20 oficinas do CCTI, cujo objetivo é proporcionar o envelhecimento ativo à população, a fim de trazer qualidade de vida e, consequentemente, promover a longevidade.

Segundo o jornal local “O Atibaiense”, os idosos representavam cerca de 25 mil habitantes em 2015; já em 2018, de acordo com a Prefeitura de Atibaia, eles somaram 26 mil, e a tendência é que o número cresça ainda mais ao longo dos anos. Segundo um estudo realizado pelo IBGE, o Brasil terá mais idosos que jovens em 2060, e isso se deve a inúmeros fatores. Entre eles está a quantidade reduzida de filhos por pessoa, e a escolha por uma gestação tardia por parte das mulheres brasileiras, que hoje priorizam a maturidade e a formação profissional antes da criação de um filho. Ainda segundo esse estudo, o declínio será mais acentuado a partir de 2047, onde 1 a cada 4 pessoas vão ter mais de 65 anos.

Com o crescimento da terceira idade no país, a questão da longevidade é colocada em pauta com cada vez mais frequência, e a atividade física é sempre uma das alternativas que compõe um estilo de vida saudável. Já a dança[,] é uma atividade cada vez mais procurada nessa faixa etária, justamente pelo benefício de evitar a solidão e o isolamento. Ademir Caetano, formado em Educação Física, mais conhecido pelos alunos como “Monga”, dançarino de ballet e jazz, explica que para a turma da terceira idade é uma alegria se unir para dançar, sobretudo por conta da socialização. Ele acrescenta ainda que elas encaram a dança como uma conquista.

Condicionamento físico, dança mix, teatro, pintura de tecido, estimulação cognitiva, ritmos, capoeira, coreografia para os Jogos Regionais do Idoso, bordado, dança de salão, pilates, yoga, canto, violão, meditação, percussão, vôlei adaptado, barbante/artesanato são algumas das oficinas oferecidas pela Prefeitura

O termo “elas” não é empregado por acaso: das cerca de 30 pessoas presentes no dia da reportagem, apenas duas delas eram homens. “A maioria é mulher. Mesmo nas outras atividades, o número de homens é muito restrito. É coisa cultural, ou aquela história de a mulher é mais guerreira, mais motivada, ela corre mais atrás do que o homem […] de manhã elas estão aqui, à tarde elas voltam”, completa Ademir, ressaltando a perseverança das senhoras.

Antônio Mendes da Silva, 70 anos, uns dois únicos homens presentes na aula, diz que a pouca presença deles nas atividades se deve exclusivamente a falta de vontade, mas que ele foge à regra. Seu Antônio participa das Atividades no CCTI desde que elas começaram. “Só tinha umas 20 pessoas”, completa. Diz que não vai todo os dias por conta — segundo me confidenciara mais tarde — da namorada que cuida da neta ainda pequena e não pode acompanhá-lo, mas que as atividades acontecem diariamente.

“O CCTI é uma coisa maravilhosa para a terceira idade, recomendo para outras pessoas [..] Se você conhecer, vai ver que é uma coisa saudável”, ressalta Ana Marly, 74, que participa dos projetos no centro há três anos. “Eu sou de São Paulo e fazia atividade no SESC, aí quando eu vim para cá e descobri isso aqui, aí eu não saí mais”.

Ana Marly participa de diversas atividades no CCTI, entre elas: dança de salão, capoeira, yoga e dança mix

Segundo o site Ativo Saúde, a dança como forma de atividade física traz diversos benefícios. Os praticantes adquirem aumento da eficiência dos sistemas cardiorrespiratório e cardiovascular, melhora da postura corporal, tonificação muscular, melhora do equilíbrio, além da redução dos níveis de estresse. Além de ser um “exercício disfarçado”, ela também promove a diversão. Na Mix Dance ou “Dança Mix”, termo abrasileirado pelos próprios alunos do centro, estão inscritas 90 pessoas que se dividem entre as três vezes da semana em que as aulas acontecem. Ademir também ministra aulas de condicionamento físico e alongamento.

Já quando a questão é dança na terceira idade, alguns cuidados devem ser tomados para que ela não seja desgastante. “Eu adapto [os movimentos]” diz Ademir. “Dividimos os grupos em movimentos de oito tempos, colocamos sempre movimentos de deslocamento e trabalhamos com muita palma. Então, você tem o estímulo visual, o estímulo cognitivo, e até o emocional — isso porque você coloca uma música que remete ao tempo delas. Você trabalha com todas as faixas de estímulo possíveis para elas se sentirem agradáveis e bem recebidas.

Mas não são todos que podem fazer as mesmas atividades. Para o bem-estar dos integrantes, todos os idosos que chegam ao Centro de Convivência passam primeiramente por uma triagem, segundo me informou Cristine Ilescas, secretária. Ela é responsável pelo primeiro atendimento, checando informações sobre a saúde da pessoa, medicamentos que faz uso, entre outras informações relevantes para aderir ou excluir alguém de determinada atividade. “Eu faço o primeiro cadastro e apresento para o professor, mas quem faz um cadastro mais específico é a Mirian, a assistente social”.

Grosso modo, a dança é muito mais que apenas uma atividade física e podemos dizer que sua relação com a longevidade vai além das técnicas, alongamentos e queima de calorias. Ela é uma forma genuína de resignificar a vida após os problemas causados pela idade, entre eles os psicológicos. “A dança é fundamental na questão da mobilidade, da articularidade. Movimentos amplos, repetitivos, em que você trabalha o seu cérebro para guardar o movimento. Para a terceira idade é até fundamental por questões emocionais, afinal a dança transmite alegria, e as pessoas também precisam de alegria na vida. Às vezes, dentro da família não tem muito disso, então elas vêm aqui e entram em contato com as amigas. Acho que o principal fator é a alegria de estar dançando”, finaliza Caetano.

Confira um trecho da oficina Mix Dance oferecida no CCTI:

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