A guerra dos dados

Projeto Etcetera
E Outras Coisas
Published in
3 min readAug 26, 2020

Texto de Brenno Cardoso

No início de agosto, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou duas ordens executivas exigindo até novembro deste ano a venda ou banimento de dois aplicativos chineses — Tiktok e WeChat.

O chefe republicano acusa os aplicativos de coletar informações de usuários indevidamente, mas esqueceu de mencionar que os Estados Unidos utilizam da mesma artimanha, inclusive colhendo informações de todos os aplicativos e sites de pesquisa para um banco de dados gigantesco.

A questão da vigilância de dados é uma preocupação no mundo todo. Depois de uma longa negociação com o aplicativo de relacionamento estadunidense Tinder, a jornalista Judith Duportail conseguiu ter acesso a todos os dados que o app teria coletado durante os anos de uso. Ao menos 800 páginas de dados pessoais foram anexadas e enviadas à jornalista. Para você ter uma ideia, 800 páginas são cinco vezes um caderno de 10 matérias.

Dentre todos os dados coletados da jornalista, tinham informações pessoais, documentos, dados comportamentais e dados extraídos de outros aplicativos, como Instagram, Facebook e Twitter — tanto de postagens como de dados também coletados por essas empresas.

À BBC, a jornalista disse que se espantou com a quantidade de dados. “Ao usar um app de encontros, você se sente segura porque ninguém está olhando. Mas é preciso ter em mente que nenhuma dessas mensagens te pertence: elas são propriedade da empresa”.

O presidente Trump inclusive esteve envolvido em um caso de coleta de dados juntamente com a Cambridge Analytica, empresa que fazia testes de personalidades para coletar informações de usuários. As respostas recebidas foram usadas na criação de um banco de dados e, posteriormente, utilizados para elaborar a campanha de Donald Trump, nas eleições de 2016.

O nome por trás desse feito é o assessor político e estrategista Steve Bannon, que foi preso na última quinta-feira (20). Mas não se enganem: Bannon não foi detido por usar os dados de pessoas indevidamente, mas por corrupção ativa. Bannon, que era tido como conselheiro de Donald Trump, encabeçou uma campanha privada, usada na corrida eleitoral do presidente dos Estados Unidos em 2016. “We Build The Wall” prometia a construção de um muro para separar as fronteiras dos Estados Unidos das do México.

Trump e Bannon. Crédito: M. NGAN / AFP

Tida por muitos dos estadunidenses como uma campanha racista, o ‘We Build The Wall’ conseguiu arrecadar 25 milhões de dólares. Bannon, segundo as investigações, teria usado pelo menos 1 milhão de dólares desse dinheiro em gastos pessoais, e está sendo acusado de fraude bancária e lavagem de dinheiro.

A atitude de Trump, ao “banir” esses aplicativos chineses, gera uma série de questionamentos: será que ele está com medo do monopólio de dados dos Estados Unidos deixar de existir? Ou há mais algum interesse pessoal por trás desses dados, já que a campanha eleitoral dos Estados Unidos está cada vez mais próxima?

Vamos ter que esperar o desenrolar dos fatos para ter um panorama maior sobre esses casos.

--

--

Projeto Etcetera
E Outras Coisas

Conteúdo jornalístico desenvolvido pelo curso de Comunicação Social da Uninassau João Pessoa