‘Clímax’ e a construção do caos

Gerson Souza Cruz
E Outras Coisas
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2 min readJul 15, 2020

Resenha crítica por Gerson Souza Cruz

Pôster de “Clímax”. Crédito: Divulgação

O longa-metragem francês Clímax, do cineasta Gaspar Noé, acompanha um grupo de jovens dançarinos confinados em uma antiga escola com o propósito de se prepararem para uma grande apresentação. Depois do último ensaio, os dançarinos resolvem comemorar com uma festa, e então a paranoia é instalada quando a primeira pessoa alega não se sentir muito bem, culpando a sangria servida na ocasião.

A história, que o diretor franco-argentino diz ser baseada em uma tragédia real, pode ser dividida em duas partes: antes e depois do caos. Em uma entrevista, Noé fala em como o longa pode ser uma representação da relatividade do bem e do mal, da desordem e da fragilidade da psicologia humana.

A primeira parte do filme trabalha a construção dos personagens, que não é muito profunda, mas que mostra grandes diferenças entre eles quando foca nos diálogos — desde a ambição dos próprios personagens ao julgamento para com os outros.

Já na segunda parte, um dos personagens diz que a sangria foi batizada com algum tipo de alucinógeno, e então a desordem começa com a expulsão de um membro do grupo, agressões físicas, automutilação, alguém pegando fogo — uma viagem completa para o inferno.

E o que parece ser o inferno para alguns, para outros a ‘desordem’ se torna o paraíso. A trilha sonora e a direção conseguem trazer uma imersão aos sentimentos vivenciados em menos de duas horas de filme. A câmera voa por sobre personagens, acompanhando-os em seus momentos de euforia e psicose na pista de dança.

Imagem promocional de “Clímax”. Crédito: Divulgação

As cenas com planos-sequência também entregam uma atmosfera catastrófica, permanecendo algum tempo com cada personagem, mudando de cenário a cada acontecimento novo.

Também é abordado o uso de drogas e sexo, já intrínsecos na filmografia de Noé. Mas o grande destaque aqui é o elenco amador que o diretor encontrou em bares e casas noturnas francesas, além dos diálogos improvisados e as cenas de dança coreografadas. O filme não tem um protagonista, e o culpado da paranoia toda é sugerido na última cena, deixando então uma perturbadora reflexão sobre a decomposição de um grupo social.

O longa-metragem de 2019 se encontra disponível na Netflix e é um ótimo começo para quem tem curiosidade nas obras do diretor.

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Gerson Souza Cruz
E Outras Coisas

Jornalista em construção; cinéfilo metido a crítico