Donnie Darko faz sentido?

Gerson Souza Cruz
E Outras Coisas
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3 min readAug 26, 2020

Resenha crítica por Gerson Souza Cruz

“Eu quero pensar que não… mas eu nunca vi nenhuma prova. Então prefiro não me preocupar com isso. É como se eu passasse a minha vida inteira pensando nisso… debatendo na minha cabeça. Pensando os prós e contras. E, no final das contas, eu ainda não encontraria as provas. Então… eu nem quero debater mais. Porque é ridículo. Eu não quero estar sozinho. Então isso faz de mim um ateu?”. (Trecho do filme Donnie Darko, 2001).

Cena do filme ‘Donnie Darko’. Crédito: Divulgação

Donnie Darko recebe um chamado no meio da noite e, ao sair de casa, encontra uma pessoa vestindo uma fantasia de coelho no jardim. Misteriosamente, o estranho indivíduo diz que o mundo irá acabar em 28 dias, 06 horas, 42 minutos e 12 segundos. Após o acontecido, Donnie apaga e acorda do nada, no meio de um campo de golfe e, ao retornar para casa, descobre que uma turbina de avião caiu em cima de seu quarto durante a noite.

A partir daí acompanhamos a jornada de Donnie Darko, um adolescente com esquizofrenia que comete diversos delitos a pedido de seu amigo imaginário Frank (o cara fantasiado de coelho).

Vemos também a relação de Donnie com sua família e amigos, suas sessões de terapia e também o desenrolar do seu relacionamento com a garota nova da escola, Gretchen, em meio ao caos.

Donnie Darko faz sentido? Grande parte do pequeno sucesso do filme se deve ao próprio roteiro, que com certeza não é um dos mais fáceis de se compreender. É impossível assistir ao longa e simplesmente ignorar o seu final.

Cena do filme ‘Donnie Darko’. Crédito: Divulgação

Escrito e dirigido por Richard Kelly, Donnie Darko foi um fracasso em bilheteria, mas ganhou uma legião de fãs do cinema “cult” ao longo dos anos, por sua complexidade. Se você pesquisar por Donnie Darko no YouTube, por exemplo, não faltarão vídeos com explicações para o longa. Mas o filme vai além de sua ideia original sobre viagem no tempo.

Com toda a estética dos anos 1980, tanto a fotografia quanto a trilha sonora são alguns dos aspectos marcantes do filme, mas o roteiro nos leva pela “jornada do herói” — uma vez que Donnie Darko é também visto como um super-herói, uma espécie de protagonista com problemas mentais e questionamentos que vão além da existência de um Deus.

Também há questões sobre política, ensino das escolas americanas e alienação religiosa da sociedade. Mas a solidão e as dúvidas que Donnie Darko fornecem ao longa tornam os diálogos memoráveis, um clássico “cult” com alguns prêmios.

Para quem assistiu e não entendeu nada, existe uma versão de corte do diretor do filme, com um pouco mais de informações para um melhor entendimento da história. Há também um livro lançado em 2016 pela DarkSide Books, aqui no Brasil, contando com uma entrevista do próprio Richard Kelly e algumas páginas do livro “A Filosofia da Viagem do Tempo”, escrito por uma personagem do filme, além do roteiro original.

Apesar de ser um filme difícil, Donnie Darko é um longa que traz inúmeras interpretações para quem decide se dar uma chance. Cada cena pode ter um sentido diferente, cada personagem pode ter um papel distinto na história do protagonista. O filme, no final das contas, pode até não fazer sentido, mas é inegável a beleza com a qual é retratada a melancolia de um personagem único como Donnie Darko.

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Gerson Souza Cruz
E Outras Coisas

Jornalista em construção; cinéfilo metido a crítico