FEMINISMO — A realidade de uma jovem feminista

Em entrevista, jovem que estuda sobre a causa feminista apresenta os principais desafios em uma sociedade ainda patriarcal

Por: Vitória Barbara

Feminismo (Foto: Reprodução / Edição por Vitória Barbara)

O feminismo é um movimento que tem como uma de suas principais características a luta pelo fim do sexismo e, consequentemente, alcançar a igualdade de gênero entre homens e mulheres. Esse movimento ideológico, liderado por mulheres, está constantemente em guerra contra a sociedade patriarcal, marcada pela dominação masculina.

Novas gerações de jovens feministas estão surgindo entre adolescentes e adultos, que defendem a liberdade e que quebram os padrões machistas, criando assim um novo caminho para o feminismo no Brasil — como é o caso de Maria Viera, uma jovem que estuda o movimento feminista e que tem como objetivo se tornar uma ativista ativa e consciente de sua luta.

Do seu ponto de vista, o que é o feminismo?

Bom, eu costumo definir o movimento feminista de acordo com a citação de bell hooks em seu livro “O feminismo é para todo mundo”, na qual ela diz que o feminismo é um movimento que busca acabar com o sexismo, exploração sexista e opressão. Além disso, quando me pedem para ser mais específica do que eu já fui, eu digo que o feminismo está em busca pela igualdade de gênero em todas as esferas sociais. É um movimento que pauta sobre liberdade de escolha, proteção social, direitos igualitários.

Como você conheceu o feminismo e qual foi a sua principal motivação em querer fazer parte do movimento?

Graças a Deus eu tive a oportunidade de conhecer o feminismo desde cedo. Eu estava mal em relação ao meu corpo e me comparava bastante com as outras meninas. Então eu fui pesquisar meios para resolver este problema e acabei lendo sobre as vantagens do amor próprio e aceitação em vários posts pela internet. Com mais leituras, eu cheguei a páginas feministas que tinham textos incríveis sobre o feminismo e suas lutas — o que me fez ficar mais interessada ainda em fazer parte. Eu fiquei motivada em compartilhar tais pensamentos com outras meninas e meninos, pois da mesma forma que me senti acolhida, também queria fazer com as pessoas sentissem o mesmo.

Por que você acredita que o movimento feminista ainda é mal visto em nossa sociedade?

Logo no início do movimento, as feministas eram vistas como rebeldes radicais que estavam insatisfeitas por não terem conseguido um marido. Outra coisa é que muitos homens achavam que as mulheres queriam roubar os seus postos de dominação social. Inclusive, chega a ser irônico que os homens tinham medo, e acredito que ainda tenham, de que as mulheres reproduzissem o mesmo comportamento masculino. Hoje em dia, esse pensamento ainda é recorrente e, por conta disso, as feministas são vistas como ladras de posições e “mimizentas”. Não posso deixar de mencionar que muitas mulheres também enxergam o feminismo dessa forma, o que piora ainda mais a situação.

Você acha que pessoas podem se considerar feministas, mesmo sendo contra certas pautas que o movimento aborda?

Em minha opinião, não. Veja bem, o feminismo é um movimento que defende a liberdade de escolha, certo? Como uma pessoa pode ser feminista se ela vai de contra argumentos que priorizam o bem-estar da mulher? Um bom exemplo é a questão do aborto. Uma mulher feminista pode optar por não fazer o aborto, mas ela não pode ser contra a escolha de outra mulher que quer abortar. Citando a bell hooks novamente, como o feminismo é um movimento que quer acabar com o sexismo e ser contra a escolha de reprodução e uma opressão sexista, logo uma pessoa não pode ser considerada feminista caso ela queira privar as mulheres de seus direitos reprodutivos.

A partir do momento em que alguém apoia a liberdade de escolha, respeita as mulheres, e acredita que nós devemos ser vistas como seres humanos tão capazes quantos os homens e que por conta disso devemos possuir os mesmos direitos, bom, essa pessoa é feminista. É simples assim. Somos pessoas que queremos um mundo justo e igualitário para todos. Nem mais e nem menos.

Na sua visão, enquanto estudante do movimento, você acha que existem feministas mais “privilegiadas” do que outras?

Eu consegui perceber que mulheres brancas são mais ouvidas que mulheres negras ou pardas. Isso acaba sendo óbvio se pensarmos em uma sociedade racista. No entanto, o que vai fazer diferença é de como essas mulheres irão utilizar desse “artifício” para o bem do movimento. Nós estamos constantemente em busca de uma representatividade ampla em nossa sociedade. Por isso, sempre que tivermos a oportunidade de encaixar uma pessoa que tem argumentos importantes sobre o movimento, seja ela negra ou membro da comunidade LGBTQIA+, devemos dar espaço a elas.

Além de igualdade de gênero, quais são as outras vertentes importantes do movimento feminista?

Liberdade sexual, na qual a mulher pode expressar a sua sexualidade livremente; aceitação e amor próprio, sem deixar ser interferida pelo restante da sociedade; escolher a profissão que deseja seguir, independentemente de como a profissão é vista e analisada; poder exercer o seu direito de cidadã e participar ativamente nas escolhas da sociedade; ter a opção de formar ou não uma família e não ser obrigada a assumir um compromisso contra a sua vontade.

Quais os passos iniciais que um homem deve tomar para começar a agir com o feminismo?

Então, acho que o passo inicial seria não só dar espaço para a mulher falar como também escutar o que ela tem para dizer. Além disso, o homem pode usar o seu espaço na sociedade para combater o machismo e mostrar como o feminismo age. É claro que, primeiramente, ele tem que acabar com o seu machismo interno antes de começar a combater o machismo dos outros. É necessário que os homens compreendam que a sociedade machista também faz mal a eles, pois com a exclusão das mulheres em espaços sociais, os homens passam a ser obrigados a preencherem esse vazio. Ou seja, por conta do machismo, os homens vivem em constante pressão em assumir o papel de “alfa”.

Como aprender sobre o feminismo?

Eu comecei a entender a dinâmica do feminismo através de posts que eu encontrava na internet. Existem muitos blogs que ensinam sobre o feminismo e que também atualizam os seus leitores sobre o andamento do processo de igualdade entre os gêneros. Um site que eu adoro é o QG Feminista, pois lá tem textos que abordam sobre vários assuntos, como pedofilia, prostituição, sexo saudável, além de explicar direitinho sobre o que é o feminismo e como ele funciona. Há também vários documentários que abordam sobre o movimento feminista. Livros também são ótimos para começar a se ter uma noção básica, como o livro que eu citei anteriormente “Feminismo é para todo mundo” de bell hooks. Informações sobre o movimento é o que não falta. O que falta mesmo é a vontade de conhecer o feminismo.