Idosos mantêm viva a cultura da lapinha em João Pessoa
Ednaldo Barbosa de Lima, 71 anos, mais conhecido como Mestre Nal, mantém há mais de trinta anos a tradição da lapinha na cidade de João Pessoa. Hoje, a Lapinha Menino Deus, do bairro de Cruz das Armas, se apresenta nos mais diversos espaços culturais, perpetuando uma tradição de mais de 200 anos.
A lapinha é a representação de pequenos autos de um grupo de pastoras diante do presépio do menino Jesus, por meio de cantigas e danças na noite de Natal, acompanhados de instrumentos como o bandolim, o surdo e o pandeiro. Tradição que vem desdo o fim do século 18, os brincantes se dividem em dois cordões — o azul, a cor do manto de Nossa Senhora, e o encarnado, representando Jesus.
Há pelo menos três anos Mestre Nal vem trabalhando exclusivamente com idosos da comunidade para atuarem na lapinha. O lamento é que os jovens do bairro não participam com mais frequência. Mais do que manter uma tradição, é também uma festa para os atuais 17 participantes. “A lapinha é minha vida”, conta Mestre Nal.
Outra dificuldade do grupo é a questão financeira, já que todo o material é comprado pelos próprios brincantes. Além disso, a falta de um transporte dificulta a locomoção dos integrantes para as apresentações. O apoio de amigos é essencial nessas horas, conta uma das participantes.
Mestre Nal faz questão de manter a tradição, incluindo as mesmas personagens que configuram a lapinha, como a Mestra, a Cigana, a Pastorinha, Linda Rosa, Borboleta, entre outros. As jornadas, as danças, os cânticos simbolizam os folguedos que perpetuam, assim, uma cultura passada por gerações.
Sobre a Lapinha
O antropólogo Câmara Cascudo ressalta, em seu Dicionário do folclore brasileiro, que, por tradição, Maria e José se recolheu a uma caverna (uma lapa ou gruta), tendo lá nascido o Menino Jesus. Vem, daí, o termo lapinha.
Por lapinha, segundo Cascudo, seria denominado o pastoril que se apresentava diante dos presépios, ou seja, o grupo de pastoras que faziam as suas louvações na noite de Natal, cantando e dançando diante do presépio, divididas por dois cordões — o azul e o encarnado, as cores votivas de Nossa Senhora e de Nosso Senhor. Em outras palavras, tratava-se de uma ação teatral de tema sacro.
Os ensaios da Lapinha Menino Deus acontecem na Rua Alcides Bezerra, no CICA (Centro integrado de Cruz das Armas), às terças-feiras, 14h.