Idosos mantêm viva a cultura da lapinha em João Pessoa

Ítalo Rômany
E Outras Coisas
Published in
3 min readDec 14, 2019

Ednaldo Barbosa de Lima, 71 anos, mais conhecido como Mestre Nal, mantém há mais de trinta anos a tradição da lapinha na cidade de João Pessoa. Hoje, a Lapinha Menino Deus, do bairro de Cruz das Armas, se apresenta nos mais diversos espaços culturais, perpetuando uma tradição de mais de 200 anos.

Apresentação da Lapinha Menino Deus da Terceira Idade. Foto: Divulgação

A lapinha é a representação de pequenos autos de um grupo de pastoras diante do presépio do menino Jesus, por meio de cantigas e danças na noite de Natal, acompanhados de instrumentos como o bandolim, o surdo e o pandeiro. Tradição que vem desdo o fim do século 18, os brincantes se dividem em dois cordões — o azul, a cor do manto de Nossa Senhora, e o encarnado, representando Jesus.

Há pelo menos três anos Mestre Nal vem trabalhando exclusivamente com idosos da comunidade para atuarem na lapinha. O lamento é que os jovens do bairro não participam com mais frequência. Mais do que manter uma tradição, é também uma festa para os atuais 17 participantes. “A lapinha é minha vida”, conta Mestre Nal.

Outra dificuldade do grupo é a questão financeira, já que todo o material é comprado pelos próprios brincantes. Além disso, a falta de um transporte dificulta a locomoção dos integrantes para as apresentações. O apoio de amigos é essencial nessas horas, conta uma das participantes.

Lapinha Menino Deus. Foto: Divulgação.

Mestre Nal faz questão de manter a tradição, incluindo as mesmas personagens que configuram a lapinha, como a Mestra, a Cigana, a Pastorinha, Linda Rosa, Borboleta, entre outros. As jornadas, as danças, os cânticos simbolizam os folguedos que perpetuam, assim, uma cultura passada por gerações.

Foto: Divulgação

Sobre a Lapinha

O antropólogo Câmara Cascudo ressalta, em seu Dicionário do folclore brasileiro, que, por tradição, Maria e José se recolheu a uma caverna (uma lapa ou gruta), tendo lá nascido o Menino Jesus. Vem, daí, o termo lapinha.

Por lapinha, segundo Cascudo, seria denominado o pastoril que se apresentava diante dos presépios, ou seja, o grupo de pastoras que faziam as suas louvações na noite de Natal, cantando e dançando diante do presépio, divididas por dois cordões — o azul e o encarnado, as cores votivas de Nossa Senhora e de Nosso Senhor. Em outras palavras, tratava-se de uma ação teatral de tema sacro.

Os ensaios da Lapinha Menino Deus acontecem na Rua Alcides Bezerra, no CICA (Centro integrado de Cruz das Armas), às terças-feiras, 14h.

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