Lendo Virginia Woolf pela primeira vez

Isabelle Vasconcelos
E Outras Coisas
Published in
3 min readJun 1, 2020

Crônica de Isabelle Vasconcelos

Era o início de 2019, eu tinha finalmente saído de uma ressaca literária e comecei a ler novamente — e com afinco dessa vez. Em poucos meses vi um post no Instagram de uma menina que eu seguia e morava no mesmo bairro que o meu, no qual dizia que estava se desfazendo de alguns livros para vender. Eram publicações muito boas e que tinham pelo menos umas três que eu gostaria de comprar. O melhor de tudo: estavam em bom estado e os preços estavam acessíveis. Entrei em contato querendo comprar “O Sol é Para Todos”, de Harper Lee; ela, porém, disse que já tinha vendido. Tentei “Eu, Christiane F., 13 anos, drogada e prostituída”, de Christiane F., mas, imagine só, também tinha sido vendido. Eis que o único que sobrou e eu tinha vontade de comprar era “ A Viagem”, de Virginia Woolf — por R$15,00!!

Nunca tinha lido nenhuma obra da Virginia antes, meu único e valioso contato que tive foi apenas em um livro antigo, que encontrei na casa da minha avó numa viagem de férias para Recife, e era um compilado resumido sobre a vida de alguns autores, dentre os capítulos, tinha o dela. Lembro que a história de vida da autora me chamou muita atenção. Na minha lista da Amazon tinha umas duas obras dela, mas nunca tinha comprado até esse momento que surgiu.

2019 foi um ano que consegui ler alguns clássicos que sempre fui louca para conhecer a história, como 1984, de George Orwell, por exemplo, e durante esse meio tempo eu acabei deixando “A Viagem” de lado. Chega 2020, não tenho nenhum livro interessante na minha estante para querer ler, nem muito menos dinheiro para comprar livros novos. Nesse momento, resolvo dar uma chance para Virginia e confesso que estava com expectativas bem altas e torcendo para que fosse uma jornada legal. Sempre via posts e matérias relacionando Woolf ao feminismo e ao quanto ela é importante para a literatura. Imaginava que seria uma leitura que fosse mudar algo em mim ou me fazer ter uma nova percepção sobre as coisas da vida. Mas não foi nem um pouco assim.

A história acompanha a personagem Rachel partindo numa viagem da Inglaterra para a América do Sul em um navio. Durante o longo percurso ela encontra pessoas de várias personalidades: escritores, políticos, homens machistas, mulheres modernas, além do pai e da tia presentes durante a viagem. Toda essa trajetória é sobre amadurecimento e descobrimento da protagonista sobre ela mesma na sociedade.

O livro é bem chato! Comecei a ler em janeiro e já estamos na metade de abril, em meio a uma pandemia e eu ainda não terminei. É o primeiro romance dela publicado e acho que talvez esse seja o motivo de, provavelmente — digo “provavelmente” porque nunca li nenhuma obra dela antes -, ser tão diferente dos outros livros.

Lembro que estava lendo cada capítulo com o maior esforço do mundo e, quando via que era longo demais, quase chorava. A história não andava, não acontecia muita coisa, os personagens são chatinhos, cheios de frescuras e com crises existenciais tão esdrúxulos que só me faziam sentir mais raiva. Minha primeira experiência lendo Virginia Woolf não foi uma das melhores, mas ainda tenho fé que irei terminá-lo, nem que seja na base da tortura, não tem sensação pior para mim do que deixar algo incompleto.

Isso também não significa que não vou ler mais Virginia Woolf, “Um Teto Todo Seu” e “Ao Farol” ainda continuam na minha lista da Amazon, esperando um dia serem comprados, e acredito que esses vão me dar uma experiência diferente e mais interessante, caso contrário, eu desisto.

--

--