Mal Nosso e a ascensão do terror no Brasil
Resenha de Gerson Souza Cruz
O filme Mal Nosso, escrito e dirigido por Samuel Galli, em 2017, conta a história de Arthur, um homem na faixa dos 40 anos que, para proteger sua filha de uma entidade sobrenatural, acaba contratando um assassino de aluguel.
As sinopses na internet são um pouco duvidosas ao começo da narrativa, entregando um spoiler desnecessário que, para alguns, pode acabar prejudicando parcialmente a experiência, já que, por ser um longa nacional de terror, o público já fica com um pé atrás.
E sim, numa mistura de thriller com suspense, o filme entrega em menos de duas horas uma narrativa intrigante que surpreende pela criatividade do roteiro — e vai bem mais além de sua sinopse.
O ator Ademir Esteves, que vive o personagem de Arthur, surpreende com sua atuação, que de longe consegue ser um dos pontos altos da cinematografia. Outro destaque também é o encerramento do filme, oferecendo ao espectador uma belíssima montagem, alternando entre o protagonista e o assassino de aluguel, e seus respectivos fins, trazendo um plot twist que, apesar de bem pensado, acaba sendo entregue antes da hora, não surpreendendo tanto assim, mas ainda sim mantendo a cena final memorável.
A maquiagem espetacular traz maior veracidade nas cenas mais sanguinolentas, que são muito bem executadas, e por vezes coloca o espectador angustiado em sua objetividade, deixando por entender o acontecimento da cena apenas através dos efeitos sonoros, não focando muito em jumpscares1, mas sim no gore2.
Entre os pontos negativos está parte do elenco, que entrega atuações pouco expressivas, até mesmo preguiçosas. Também vale ressaltar que as cenas onde acontecem os flashbacks poderiam ter sido um pouco melhor explicitadas por parte da fotografia, trazendo essa imersão mais completa na história do protagonista.
No mais, o filme é muito bom, considerando a falta de interesse tanto do público quantos das instituições em longas desse gênero, com um roteiro bastante criativo e inovador, consolidando a obra como um dos melhores filmes do gênero da década passada aqui no país, trazendo um protagonista empático em sua jornada espiritual.
A obra de baixo orçamento produzida em Ribeirão Preto (SP) acabou estreando no exterior, chegando nas plataformas digitais apenas em maio do ano passado. O filme se encontra atualmente no catálogo do serviço de streaming da Netflix. Vale a pena dar uma conferida e seu apoio nas obras nacionais, que vêm crescendo não só no gênero de terror, mas num todo nos últimos anos.
1 O nome de uma técnica utilizada para assustar a audiência em filmes de terror.
2 Um subgênero cinematográfico dos filmes de terror, caracterizado pela presença de cenas extremamente violentas e com muito sangue.
