Midsommar e a desconstrução de um relacionamento

Gerson Souza Cruz
E Outras Coisas
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3 min readJun 30, 2020

Resenha crítica de Gerson Souza Cruz

Midsommar, filme de Ari Aster lançado em 2019, conta a história de Dani, interpretada pela atriz Florence Pugh, que após uma tragédia acaba viajando para Suécia com seu namorado e um grupo de amigos para um Festival de Verão numa vila remota. Mas, apesar dos objetivo dos jovens em viajar para lá, o que deveria ser uma celebração acaba se tornando um acontecimento de eventos assustadores.

Cena de “Midsommar”. Crédito: Divulgação

Sim, a sinopse do filme não parece nada inovadora para o gênero, mas o diretor e roteirista Ari Aster consegue transformar uma convencional história de terror em uma experiência lindamente perturbadora.

Midsommar usa de elementos nada convencionais, como o fato de 90% do longa se passar à luz do dia. Os relacionamentos paralelos dos personagens para construir toda a tensão durante as quase duas horas e meia de filme parecem ser exageradas para quem está acostumado com o perfil Hollywoodiano dos filmes de terror.

O filme tenta passar a máxima proximidade com a realidade, nos trazendo um aprofundamento a esses personagens que outrora foram postos como característicos desse tipo de narrativa, com diálogos sobre a idealização de “lar” através da visão assustada de quem não pertence àquele lugar ou as suas tradições religiosas. Porém, a trama principal se sustenta entre a Dani e o seu namorado Christian. E é aí que entra a desconstrução.

Desde o início do longa, Florence Pugh dá um show de atuação, conseguindo transmitir a dependência de sua personagem com relação ao Christian, seu namorado, que se sente preso naquele relacionamento — na maior parte da história, por pena da protagonista, sem coragem de terminar o namoro.

Após a tragédia que dá o pontapé inicial à trama, a fragilizada Dani se vê humilhada, várias vezes, para com o Christian, sempre se desculpando pelos erros dele, a fim de se manter conectada ao único sustento que lhe resta agora. Porém, ao chegar na tal vila sueca, o relacionamento dos dois personagens começa a desmoronar a cada dia de festividade, mostrando a Dani, em cada passagem, que sua história de amor está destinada ao fim.

Tudo no filme coopera para o fim que tem. Apesar das cenas chocantes com diálogos reflexivos e alusões à cultura e pessoas, consegue uma finalização de extrema sensibilidade para com a protagonista, num contraste onde é possível enxergar o encerramento de toda a angústia e sofrimento da personagem.

O diretor e roteirista Ari Aster comentou em uma entrevista que escreveu a história enquanto passava por um período conturbado, o fim de seu relacionamento, o que explicita ainda mais a trama principal por trás de todas as camadas superiores do filme, surpreendendo não só o público, mas também a crítica especializada que carregava grandes expectativas após o primeiro trabalho de Aster, “Hereditário”, de 2018.

Cena de “Midsommar”. Crédito: Divulgação

Por fim, o que deveria ser para mim um inteligente terror psicológico, acabou por se tornar o melhor filme que eu assistira ano passado, inovando de uma base clichê para uma obra prima moderna, mostrando em aproximadamente 147 minutos, de uma forma perturbadora, a beleza em esquecer o amor.

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Gerson Souza Cruz
E Outras Coisas

Jornalista em construção; cinéfilo metido a crítico