Numa sala de química, uma drag que faz a diferença

Projeto Etcetera
E Outras Coisas
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3 min readSep 12, 2020

Texto de Carla Viviane e Wendel Paiva

Crédito: Arquivo Pessoal

Entre fórmulas e equipamentos de ciência, presentes em uma sala de aula de química, ganha um tempero a mais quando a professora chega para ministrar a matéria do dia. De peruca, salto alto e maquiagem no rosto, Luís Vitor, 28, ou melhor, a drag queen Friday Manson rompe barreiras ao mostrar que, sim, a educação pública pode e deve ser inclusiva — para todos e todas.

Natural de Santa Rita, a 13 quilômetros da capital paraibana, Friday Manson é professora de escola pública, trabalhando em diversas escolas da região metropolitana de João Pessoa. Mestra em Ensino de Ciências Naturais e Matemática pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), fez uma dissertação sobre relações de gênero na ciência e educação.

Luís Vitor afirma que não são todas as vezes que vai à escola de Friday Manson. Geralmente em momento especiais. Entretanto, na antiga escola que lecionava, no bairro de Mangabeira, houve uma repercussão nacional quando, em 2017, apareceu de drag na aula de química. Com a permissão da escola, promoveu uma reflexão com os alunos e alunas do ensino médio sobre diversidade. “Eu não sei ao certo qual foi o impacto, mas eu senti que no dia que eu fiz isso, conquistei e aproximei mais os estudantes de mim porque sem dúvida foi um dia muito mágico”, relembra.

“Enquanto estudante, eu achava que eu não podia ocupar alguns espaços e trilhar alguns caminhos porque a sociedade me dizia que aquele espaço não era próprio para quem é homossexual”.

Canal Delta Drag

Em março deste ano, Friday lançou um canal no Youtube, o ´Delta Drag, que já ultrapassa mais de 12 mil visualizações. Em plena pandemia da Covid-19, foi a forma que teve para promover conteúdos relevantes à comunidade LGBTQIA+, abordando assuntos relacionados à educação, direitos humanos e gênero.

Com a repercussão, Friday vem sendo convidada para fazer palestras para profissionais de diferentes áreas como saúde e educação. Ao mesmo tempo, confessa que vem sofrendo muitos questionamentos pela sociedade, sobre o contexto que vive.

“As reações que as pessoas têm são bem confusas, porque são muitas coisas em uma pessoa só: DJ, drag queen, professor de Química. E isso acaba gerando uma inúmeras desconfiança por parte de algumas pessoas, indagam se eu realmente tenho condições de ser um profissional que seja levado a sério por conta de todas as minhas questões pessoais, artísticas e profissionais”, diz.

Mesmo assim, não deixa a bola cair. Sabe que está fazendo a diferença em uma sociedade preconceituosa. “Eu represento as vozes de muitas pessoas. Promover discussões sobre educação, promover uma educação pública que de fato seja inclusiva. Não tem preço.”

Foto: Divulgação

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Conteúdo jornalístico desenvolvido pelo curso de Comunicação Social da Uninassau João Pessoa