Setor da construção civil retoma crescimento na PB, diz presidente do Sinduscon-JP, Wagner Breckenfeld

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5 min readMay 19, 2022

Em entrevista, empresário aborda os principais desafios do setor da construção civil durante a pandemia

Krystofferson Douglas

A Paraíba tem retomado o crescimento no setor da construção civil após o período difícil por causa da pandemia da covid-19. Segundo informações do Sinduscon-JP (Sindicato da Indústria da Construção Civil de João Pessoa), o estado gerou 10,5 mil empregos entre 2020 e 2021.

Em entrevista, o presidente do Sinduscon-JP, Wagner Breckenfeld, diz que os grandes empecilhos para a retomada do setor são a alta de preços dos insumos e a imprevisibilidade das eleições deste ano.

Como está o atual quadro do setor da Construção Civil na Paraíba?

Se fizermos uma avaliação, um comparativo com os demais estados do Nordeste, que é a nossa referência, eu diria que João Pessoa, por se tratar de um destino turístico muito procurado, nós tivemos um crescimento do setor, por incrível que pareça. A gente recuperou, em 2020 e 2021, um total de 10,5 mil empregos. Então, o setor tem retomado as suas atividades mesmo com a covid, mesmo com o fechamento total do comércio durante a pandemia. Eu diria a você que o setor não tem do que reclamar, porque a gente vem a 18, 19 meses sucessivos em termos de novos empregos, números positivos no Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados).

Foto: Divulgação

Segundo dados da Sinapi (Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil), o custo da construção civil subiu 45% na Paraíba nos últimos cinco anos. Qual o reflexo disso?

Automaticamente você é obrigado a repassar esses custos, esse aumento dos insumos, na venda do seu imóvel, caso contrário você não constrói. Eu atribuo esse aumento significativo dos insumos muito à questão da covid-19. A gente sabe a crise que o mundo inteiro passou, empresas sendo fechadas, fábricas e principalmente os insumos ligados a commodities, e essa foi uma situação muito delicada. E os grandes cartéis como os do cimento, do cobre, do vidro, do alumínio, do aço, dentre outros, aumentaram [o preço] de forma significativa, afetando diretamente o segmento. O setor sentiu dificuldade em repassar essa inflação para o preço final das unidades, mas deu para se administrar. Eu compreendo e tenho leitura que a Paraíba conseguiu administrar, até pela competência dos seus executivos, das construtoras existentes no mercado local.

Como vocês estão analisando o setor da construção civil para esse processo pós-pandemia?

É você equilibrar a oferta e procura, isso é fundamental para o mercado. Apesar de ser um destino muito procurado, como eu digo a segunda moradia, João Pessoa é uma cidade que tem repercussão a nível nacional, pela qualidade de vida, pela tranquilidade, pelo litoral, pelas nossas praias urbanas. Mesmo assim a gente tem tratado isso em nossas reuniões de diretoria e dos associados recomendando uma certa cautela, porque ainda é uma inflação [alta]. Há um período eleitoral, um ano de muita interrogação, a gente não sabe quem vai vir, não sabe quem vai ser o vitorioso. Então é preciso primeiro analisar isso com muita cautela, estudar bem o mercado para efeito de futuros lançamentos.

Pensando na formação de mão de obra, que é vital para o setor, existe algum apoio para qualificar esses profissionais?

Sim. Inclusive existe normas que a gente tem procurado seguir. É um dos setores mais fiscalizados pelo Ministério do Trabalho. A gente segue rigorosamente as normas de segurança, as normas de saúde e temos treinamentos, palestras permanentes nos canteiros de obras. Com relação à qualificação profissional, você tem cursos patrocinados pelo sistema S, Sesi e Senai, e isso é muito importante, temos o apoio da Federação das Indústrias nos segmentos. Nós temos cursos para formação de pedreiro, eletricista, encanador, então isso tem nos ajudado bastante. Quem não quer qualificar seus profissionais passa dificuldades. Quem quer evoluir e dar qualidade aos seus empreendimentos tem qualificação pessoal, e essa é a recomendação que a gente tem dado aos nossos associados.

Enquanto a situação não melhora, para quem vai começar uma obra, ou apenas dar uma organizada na casa, qual a alternativa a seguir?

Primeiro um estudo de mercado. É preciso fazer um estudo de viabilidade técnico-econômico de seu empreendimento. Ver onde você quer lançar, ver como está a procura daquele entorno, daquele terreno. Qual a carência da tipologia do tipo de imóvel que você quer lançar no mercado, então esse é o momento mais delicado, é exatamente o lançamento do empreendimento. Se você lança um empreendimento que não houve estudo prévio, e não ver a capacidade de investimento e a taxa de retorno que esses empreendimentos podem deixar, você pode ter consequências gravíssimas no futuro, ainda mais agora num ano delicado que nós estamos passando, inflação alta, insumos. Então é preciso ver a viabilidade do empreendimento com preços compatíveis.

Quais as principais bandeiras defendidas pelo Sinduscon-JP? E qual o papel do sindicato nesse cenário?

O sindicato, como qualquer outra entidade de classe, apesar de a gente ser um sindicato patronal, zelamos muito pelas normas, pela qualidade dos empreendimentos, pela legislação dirigente. Você tem sempre que ter uma relação com a questão da preservação do meio ambiente. É preciso ter obras ambientalmente habitáveis, você precisa ter uma obra dentro das normas da construção civil. Você precisa construir dando segurança, qualidade de vida aos seus colaboradores. É preciso ter uma obra legal, quando eu falo uma obra legal, você só pode iniciar uma obra quando você tem um projeto aprovado pelos órgãos licenciadores do município, como alvará de construção, alvará de corpo de bombeiro, licença de instalação em relação à Secretaria de Meio Ambiente. Então você tem toda uma série de documentos que são exigidos para você iniciar uma obra.

Como presidente do Sinduscon-JP, qual o conselho você daria para os empresários do setor neste momento?

Muita cautela. Observe o mercado, observe o que está acontecendo na região Nordeste, no setor da construção civil. Nós estamos numa fase de inflação que requer muito cuidado. É preciso muita cautela neste momento. É isso que temos conversado com nossos colegas, nossos companheiros de sindicato. Apesar de termos um quadro de construtores com 50 anos de atividade no mercado. Isso é importante. Dá uma certa segurança. Que permaneça esse nível de responsabilidade para com a sociedade, para com os colaboradores, para com os órgãos licenciadores nesse compromisso. Que você não caia numa aventura. Só lance um empreendimento com segurança, isso é o que eu recomendo sempre.

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Conteúdo jornalístico desenvolvido pelo curso de Comunicação Social da Uninassau João Pessoa