Vozes e Vultos, complexo suspense da Netflix

Gerson Souza Cruz
E Outras Coisas
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3 min readDec 2, 2021

Resenha de Gerson Souza Cruz

Cena do filme “Vozes e Vultos”. Créditos: reprodução

Vozes e Vultos (Netflix) é um suspense que talvez tenha passado despercebido pela grande massa que consome o gênero na plataforma de streaming. Lançado em abril deste ano, o enredo não parece muito original –

um casal que se muda para uma casa mal-assombrada em um vilarejo. Até pode atrair alguns espectadores pelo trailer sensacionalista, mas a proposta oferecida pela dupla que dirige o longa (Shari Springer Berman e Robert Pulcini) com certeza não é para qualquer um.

Após terminar o doutorado, George Claire (interpretado por James Norton) resolve sair da cidade grande para lecionar em uma escola numa cidade do interior. Acompanhado da esposa Claire (interpretada pela incrível Amanda Seyfried), os dois, juntamente com a filha de quatro anos, se mudam para uma casa antiga em um vilarejo histórico.

A partir daqui todos os clichês possíveis sobre filmes de terror e suspense aparecem durante a trama. Claire assume o papel da boa esposa que apoia as decisões do marido George, que por sua vez é um belo homem, inteligente e esforçado, visando o bem-estar da família. Até que Claire, juntamente com a filha, passam a ver vultos e ouvir coisas pela casa (especialmente à noite).

Claire é construída como uma esposa bonita e passiva, que aos poucos vai ganhando independência ao se aprofundar na história do lugar onde agora mora. George, aos poucos, vai mostrando que ele não é o cara perfeito, e que esconde segredos, até mesmo sobre a casa. Nada parece se mostrar diferente de outras obras, mas o diferencial do filme está em permanecer construindo a história dos personagens até seu final, ao invés de focar o enredo na assombração que está na própria casa.

Então surge a questão do místico no longa: o destino dos personagens já está traçado pelo mal, então não há uma escolha certa ou errada, final feliz ou triste. Ao longo da obra, algumas pistas são dadas para que cada parte se encaixe no lugar certo, mostrando ao espectador que determinado personagem está fadado ao final desde o início.

Porém, alguns problemas são claramente perceptíveis no roteiro. Há personagens demais que não servem para acrescentar em nada na história, e cenas que poderiam simplesmente não existir, como a de uma sessão espírita e as aparições fantasmagóricas que são simplesmente toscas. Os efeitos

visuais e cenas clichês feitas para apenas assustar também podem incomodar algumas pessoas.

Cena do filme “Vozes e Vultos”. Créditos: reprodução

Com relação aos personagens, a construção da independência da protagonista é simplesmente jogada fora (porém mostra uma realidade triste), lhe dando um encerramento que, para a maioria, não seja o esperado. Já o vilão, que só é revelado depois da metade do filme, se torna extremamente insuportável e acaba por ser o percursor de toda a história no final das contas.

Todavia, a história baseada no best seller All Things Cease to Appear, de Elizabeth Brundage, é bastante cativante, traz reviravoltas muito bem apresentadas e mostra uma filosofia cheia de referências místicas para o que poderia ser mais um filme clichê do gênero. A direção é eficiente, assim como as atuações, mostrando sobre o quê a história realmente é.

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Gerson Souza Cruz
E Outras Coisas

Jornalista em construção; cinéfilo metido a crítico