Beatriz Klein
Epifanias de Saturno
3 min readSep 20, 2018

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Eu cansei de escrever.

Eu cansei de voltar para os clichês que meus sentimentos criam e recriam para poder chamar e dizer que aquilo é arte. O que eu fui no inicio não é quem sou agora. Quem fui passou por alegrias, mas também por dor. E essa dor foi escrita por mim de mil formas diferentes, com nome e desenhos e eufemismos que remetem sempre a basicamente a mesma coisa: eu tenho medo. Minha alma é feita de luz, mas meu corpo carrega o medo. Ou carregava. Carregou. De qualquer forma, é preciso primeiro sentir, depois escrever e por fim acreditar, para poder colocar os verbos do agora futuramente no passado.

Meu ser é complexo. É antagônico. Ele almeja o mundo e sequer sabe se reconhecer. Ele impede a si de atingir qualquer capacidade sua que seja, pois é confuso. Meu ser quer amar, quer deixar amor por onde passa, mas ele possui tanta armadura que não sabe receber de volta. Portanto, ele dá a si, somente a si, restando pouco para mim.

Eu quero ser leve, mas minha alma carrega bagagens, e quase que numa tentativa de dizer que consigo olhar para o futuro sem meu passado estar curado, eu me desconecto da minha essência. Meu ser tem medo, tinha, teve, terá. É algo que não sei se consigo, por agora, me desvencilhar.

É essa sombra que faz com que minha luz lute para ser maior e vencê-la.

Sinto-me inconstante, estou me redescobrindo e esquecendo, escondendo, quem sou. Faço isso por um porquê. E qual é?

Fechei-me ao novo, fechei-me ao desconhecido. Fechei-me a aquilo que antes era casa para mim e que partiu, deixando um vazio. Fechei-me para minha essência, o amar. Quando você partiu e eu te machuquei. Esse foi o marco para mim.

isso, sinceramente, em essência com o que fui quando era livre de dores profundas, é lutar contra quem sou. É negar minha alma, livre e desafiante, em busca de um conforto. este que se encontra no misto de ficar onde estou, não querer sair dali pois significa deixar nós para trás, deixar essa parte minha na mesma medida que sofreu, amou genuinamente. Significa achar que a mediocridade é para mim.

E eu sei que não é. Eu sei.

Eu cansei de escrever pois não quero criar uma ilusão na minha mente, racionalizando meus pontos francos. Portanto direi aquilo que sei que serve a mim verdadeiramente: você é maior, muito maior, do que seu eu em modo automático de defesa. Você não deve achar sua inconstância negativa, pois é ela que faz sua arte, é ela que te faz escrever para além dos clichês que sua racionalização cria.

Você não pode negar, por mais que tente, que seu instinto e seus sentimentos sempre serão mais verdadeiros a você do que sua positiva mente. Sua estabilidade é poder estar em constante desequilíbrio e, em algum momento, encontrar uma força para sair do ciclo.

Você encontra sua força quando faz arte do que pulsa em você.

Sua instabilidade não é sua sombra. Nem seu medo. São eles o motor necessário para que você tenha luz. Para que você seja maior do que você mesma em automático de defesa.

Não se esqueça do seu amor.

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