O Ensino Superior em Portugal

A reforma (im)possível

António Meireles
era uma vez um país

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O maior truque, porventura o maior 'sucesso', deste governo é ter efectivamente, criado a percepção, de que, bem ou mal, está a reformar 'alguma' coisa. Não está, muito pelo contrário.

Os gurus que iluminam Passos e a sua corte convenceram-se que a melhor, quiçá a única, forma de caminharem nas águas era não fazer escolhas, não tomar decisões e repartir de tal forma o mal pelas aldeias de modo a que ninguém, nenhum sector, nenhuma área, pudesse dizer que se safou. Basicamente o objectivo é manter o status quo (porventura mais pobre, mas sempre nas mesma hierarquia e equilíbrio de poderes que 'antes ').
Os resultados estão à vista — com a excepção da área da Saúde, único sector, onde, concorde-se ou não, se percebe que há uma política, uma estratégia, e uma execução coerente e consistente da mesma — não há área política da governação da qual se possa dizer objectivamente, e com um mínimo de boa fé, que está hoje melhor, mais racional, mais eficiente, em suma a prestar um melhor serviço a nós todos, do que o existente antes.

O Ensino Superior, por exemplo — Olhemos para além das polémicas estéreis e periódicas que o Ministro da Educação que nos saiu na rifa literalmente inventa quase diariamente, olhemos para além do corporativismo umbiguista, imediatista, diria mesmo kamikaze do Conselho de Reitores…

Olhemos para os factos… Um país pequeno, com universidades (públicas) a mais, e todas, mesmo as maiores, invariavelmente não tem dimensão, massa crítica e recursos para competirem de forma sustentada no tier one à escala global. Acrescente-se a esta panorâmica, a demografia, a fuga de cérebros, tempere-se tudo com os 'cortes' e temos o que já era mau, e definitivamente não competitivo, a ficar pior e o que tinha 'hipóteses' a lenta e inexoravelente a definhar, porque é inevitável.

E todavia, o problema é tão simples de resolver — Portugal não precisa, não tem demografia, não tem dinheiro, não tem dimensão, muito menos talento, para ter tantas Universidades, tantos Politécnicos, etcetera e tal, ponto final. É estúpido, é irracional, é irresponsável, é suicida.

O que custa assumir isto, que me parece absolutamente óbvio, e forçar organicamente, através de fusões, a criação de umas quantas Universidades públicas a sério, com dimensão, escala e modelos de governance a sério, em todo o país ? Não é difícil de demonstrar que este modelo sairia infinitamente mais barato, mais efectivo, mais eficiente do que a actual estratégia de basicamente ano após ano ir asfixiando lentamente, tudo e todos.

Isto sim, seria uma reforma a sério.

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