UX Design para adultos em crise

Jaqueline Martins
eSapiens Ventures
Published in
5 min readAug 20, 2019

Apesar de ser Arquiteta, trabalho a 4 anos com User Experience (UX) e amo a área de TI. Me perguntam muito como eu vim parar aqui e nessa série de artigos vou trazer minha experiência como um guia possível (não único!) para migrar para UX. Hoje vou responder as perguntas que mais recebo pra te ajudar a já sair da inércia.

A foto é clichê, mas é uma realidade. Fonte: Visual Hunt

1. O que houve com você?

Saí da faculdade em 2013 como a pior aluna da minha turma no IAU-USP. Foi uma jornada consistente de notas medíocres, madrugadas regadas a coca-cola e muita enxaqueca. Em meio à crise da construção civil não consegui emprego, mas como minha lábia sempre foi boa, entrei no mestrado na área de Arquitetura e Tecnologia na UNICAMP. Não consegui a bolsa de estudos depois de um ano, e depois da segunda crise de colelitíase e de levar uma batida que deu PT no meu carro, liguei aos prantos para o meu então namorado dizendo “eu vou morar com você porque não sei mais o que fazer da minha vida”. Não dei opção.

Procurando trabalho sem experiência. Fonte: Giphy

Ele me contou que estavam precisando de “tipo um webdesigner” onde ele trabalhava, e um amigo (que viria a ser meu tutor) me passou material para estudar. Percebi que tudo o que eu odiava na arquitetura estava resolvido ali. O imutável sempre me incomodou, a arquitetura dificilmente abandona a autoria para dar ênfase ao usuário e à experimentação, mas lendo sobre testes a/b e cases clássicos como o do “botão de 300 milhões”, meus olhinhos de cientista finalmente brilharam.

2. Conseguindo um espaço

Em 2015 no interior de São Paulo, poucas empresas de TI tinham UI/UX Designers, e contávamos nos dedos quais tinham departamentos dedicados a isso. Fiz 3 redesigns de aplicativos que eu usava mas sabia que podiam ser melhores, e entreguei meu portfólio na empresa do meu ex. Me passaram um desafio, gostaram do resultado e inventaram o cargo para mim, Auxiliar de Design, que era um jeito legalizado de ter um estagiário com diploma. Em um mês, um dos designers pediu demissão pra viajar o mundo numa bike vendendo cookies deliciosos e eu fui parar no olho do furacão. No terceiro mês eu finalmente tinha um título que me dava orgulho, UI/UX Designer Jr. 1. E naquele momento, considerando a minha sorte e com o meu primeiro salário de 4 dígitos na conta, eu achava loucura querer sair de bike do escritório e nunca mais voltar.

3. Preciso de um diploma?

A pergunta que recebo com mais frequência é a relevância de um diploma de Bacharelado em Design para ser UX Designer. Desculpem bacharéis por ferir seus sentimentos, mas isso não é determinante. Ajuda ser designer? Ora, quem não faria bom uso de 5 anos de estudo em produção artística, computação, história, estética, sociologia, filosofia? A questão não é essa. Também ajuda ser arquiteto e ter experiência em gerenciamento de projetos. Mas se você entender de psicologia, programação ou estatística pra começar, resolve.

UX é um overlap de várias áreas de conhecimento que vão da engenharia à biblioteconomia, então um diploma em design é apenas um dos vários caminhos possíveis. Donald Norman, criador do termo, é engenheiro e pesquisador em psicologia. É impossível que você domine todos os campos participantes de UX, então curiosidade é o mais importante. Ter algumtítulo de graduação é meio caminho andado para provar isso (mas não é imperativo). Já existem cursos de pós graduação e matérias de UX nas faculdades de design e computação, mas ainda é cedo pra dizer se essa vai ser a única porta de entrada. Recomendo hoje que você faça cursos livres, online ou presenciais; e apareça de bicão nos eventos UX Beer da sua cidade. Eu já vi isso funcionar melhor que diplomas bem enquadrados.

Sobre não ter experiência, depende. Vejo hoje (2019) que ainda temos espaço para todos, desde os híbridos UI/UX Jr. mais empolgados até o mais carrancudo dos UX Researcher que não tem paciência com quem tá começando. E aí pra você abocanhar uma vaga júnior, o que conta é o portfólio.

4. Criando um portfólio

Como ter um portfólio sem experiência? Não subestime o poder dos mock cases. Pense bem nos vários aplicativos ou sites que você odeia, ou que você enxerga muito potencial. Você tem um conhecido com uma idéia incrível que precisa de um designer pra tirar o protótipo do papel e buscar investidores, isso se você mesmo não for dono da idéia. Você pode fazer um formulário e colher dados para construir personas na internet, você pode entrevistar seu cachorro e sua avó pra saber o que você poderia melhorar pra eles no mundo digital. Você faz uma maquete antes de construir, você desenha um protótipo antes de programar. Na verdade, é simples assim.

Recomendo que você recheie seu portfólio com trabalhos voluntários e faça alguns freelas cobrando pouco. Apenas alguns, pois você não quer atirar no seu próprio pé cobrando 15 reais por hora trabalhada e depois reclamar no facebook que te ofereceram 2000 reais como PJ na Vila Olímpia. No próximo artigo vou falar mais sobre isso.

Quando avalio um portfólio, 3 a 5 projetos envolvendo UX são suficientes pra decidir devo te mandar um teste. É a apresentação do teste que eu vou usar pra te defender na hora de bater o martelo com o RH. Tenha cuidado, descartei diversos currículos de pessoas muito experientes, mas o portfólio só tinha cases de marketing. Ao trocar de área, é importante você ajustar sua apresentação e suas expectativas.

Hora da magia! Fonte: Giphy

Vamos começar?

Enquanto você monta seu portfólio eu continuo escrevendo. Nos vemos aqui nos próximos artigos, onde vou falar sobre a curva de aprendizado em UX, o dia-a-dia da profissão e remuneração. Boa sorte!

Leituras recomendadas:

Online: UX Collective, UX.Blog, Nielsen Norman Group,

Offline: Introdução e Boas Práticas em UX Design, O Design do dia-a-dia

Ferramentas gratuitas para você começar seu portfólio:

Plataforma: Behance

Wireframes e fluxogramas: Whimsical

Design de Interface: Figma, Adobe XD, Sketch (trial para Mac)

Prototipação: Marvel App, InVision

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