A urgência da comunicação e o tempo real das coisas
Trabalhar com comunicação é viver no ontem. Tudo é para ontem. A temporalidade da profissão questiona relógios e calendários: tudo está atrasado, e não tem o que fazer.
Essa realidade é muito interessante quando paramos para pensar em questões temporais. A comunicação vive em discussões contemporâneas (uma “contemporaneidade absoluta” segundo Marialva Barbosa). No mercado de trabalho publicitário, é necessário estar presente, no sentido de saber as últimas notícias, qual o meme do momento e quais são as maiores tendências do TikTok. Para quem já tem uma consciência das limitações que se tem no mundo, é natural refletir e perceber que não tem como dar conta de estar tão presente assim. Para os heideggerianos, poderia dizer que é um Dasein operando com preocupação, sabendo que o tempo pode ser limitante.
Assim, chegamos na questão: como os profissionais continuam atrasados se vivem um presentismo exacerbado?
A resposta parece simples. Com certeza podemos começar pensando sobre a aceleração e hipermodernidade (segundo Lipovetsky), que faz com que o consumo crie a ditadura da busca pelo novo. É humanamente impossível alcançar o ritmo dessa aceleração, porque questões capitalistas não podem ser domadas pela sociedade. Vamos viver em uma eterna busca.
Não podemos deixar de lado as questões de hiperinformação e a hipercomunicação (agora segundo Han): vivemos em uma era de muita informação, além da nossa capacidade de interpretação e absorção. Por mais que se espere que o profissional da comunicação saiba das últimas tendências, podemos ter certeza que não será possível saber nem de metade. Talvez o profissional tenha visto várias delas na FYP, no feed, na timeline, mas não tem capacidade de lembrar de tudo.
Com isso, é necessário refletir o motivo de ainda vivermos na correria. Por que aceitamos essa urgência das coisas e abraçamos prazos que não nos cabem? Por que nos sentimos culpados por não saber de tudo?
Que em algum momento possamos entender o tempo real das coisas e barrar a aceleração desnecessária nos trabalhos de comunicação.
Referências
BARBOSA, Marialva Carlos. Comunicação: uma história do tempo passando. Revista Transversos, n. 11, p. 98–118, 2017.
HEIDEGGER, Martin. O ser e o tempo. 15.ed. Petrópolis: Vozes, 2005.
LIPOVETSKY, Gilles. Os tempos hipermodernos. São Paulo: Editora Barcarolla, 2004.
Han, Byung-Chul. A Sociedade da Transparência. Petrópolis: Vozes, 2017.