Questionamentos do slow

Letícia Porfírio
Escala Cinza
Published in
2 min readOct 7, 2022

Sempre me considerei uma pessoa que buscava viver o slow living. Com o tempo, esses valores tomaram também a minha forma de trabalhar, me aproximando do slow marketing. Esse alinhamento trazia uma sensação de que, de alguma forma, eu estava realmente desacelerando a vida e fazendo a minha parte. Mas, isso não durou muito tempo.

Comecei com leituras de Gilles Lipovetsky e Jean Serroy. No capítulo ‘Sociedade de aceleração e estética da vida’, em A Estetização do Mundo, conseguimos concluir que slow life (e tudo que a acompanha) é uma tentativa de retomar o poder de desfrutar, algo que o capitalismo e a aceleração da vida tiraram de nós ao longo dos anos. Mas até que ponto vai o slow em nossas vidas? A desaceleração proposta tem seus limites, criando algumas “ilhas de desaceleração” (LIPOVETSKY; SERROY, 2015, p. 296), que são pequenos momentos de contemplação e tranquilidade, mas que não representam o nosso viver por completo. Afinal, ainda não estamos dispostos a abrir mão de todas as acelerações presentes na nossa vida (e nem precisamos).

Essa leitura gerou diversos questionamentos. Então, não existe um slow living? Mas como? E foi em uma busca incansável por respostas que encontrei ‘O tempo da festa’, em Favor fechar os olhos, de Byung-chul Han. No texto, Han fala sobre o slow living de uma forma diferenciada (e sem utilizar o termo). Em uma discussão sobre o tempo, o autor define que vivemos exclusivamente um “tempo do trabalho” (HAN, 2021, p. 33) e que ele se entende até em momentos de relaxamento. A desaceleração não é uma nova experiência de tempo, é apenas um ritmo diferenciado para o tempo do trabalho.

Após o contato com esses textos, passo a olhar o slow living de uma forma diferente, não mais como uma maneira de combater a aceleração causada pelo capitalismo, mas como um pedido de socorro. Uma sociedade que está cansada da cobrança de produtividade, que sente um mal-estar diário e gostaria de encontrar formas para aliviar toda a tensão o mais rápido possível.

HAN, Byung-Chul. Favor fechar os olhos: em busca de um outro tempo. Editora Vozes, 2021.

LIPOVETSKY, G. & SERROY, J. A estetização do mundo: viver na era do capitalismo artista. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

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