O Poder do Local — Helena Norberg-Hodge

Guilherme Lito
Escola Schumacher Brasil
4 min readJun 22, 2018

À medida que o peso do sistema econômico global recai em comunidades e ecossistemas — destruindo a diversidade, degradando o ambiente, comprometendo a democracia e aumentando a diferença entre os ricos e os pobres — o mundo se encontra numa encruzilhada.

Enquanto políticas governamentais continuam cegamente seguindo medidas ultrapassadas como o Produto Interno Bruto (PIB) e criando regulações, taxações e subsídios para favorecer fortemente negócios multinacionais altamente insustentáveis em detrimento de negócios locais, um movimento global emerge em outra direção à medida que as pessoas se juntam para criar um futuro diferente.

Se queremos um futuro que seja favorável à vida humana, precisamos repensar princípios básicos da economia. Precisamos abandonar a busca cega pelo dito “crescimento econômico”, que acaba beneficiando apenas uma pequena minoria, e nos dedicarmos ao crescimento de ecossistemas prósperos, comunidades saudáveis e formas de vida com significado para todos.

O primeiro e essencial passo nesse processo é reduzir a escala e localizar a atividade econômica, com o objetivo de satisfazer nossas necessidades — as mais básicas, em particular — perto de casa. Embora isso não signifique o fim do comércio — nem mesmo o comércio internacional — significa categoricamente uma guinada de direção para apoiar economias mais diversificadas e locais.

Hoje, corporações gigantes estão livres para vagar pelo mundo na busca de novos mercados, mão de obra barata, e recursos facilmente acessíveis; a sua fidelidade não é com nenhum lugar ou povo em particular, mas com o crescimento infinito do seu lucro, do qual sua sobrevivência depende e num mercado global cada vez mais competitivo.

Por outro lado, em economias locais, os negócios pertencem a um lugar e aderem às regras daquele lugar. Em outras palavras, a sociedade forma o negócio e não o contrário. A localização é um multiplicador real de soluções com imediatos benefícios econômicos, sociais e ecológicos. Como exemplo, vejamos o setor de alimento e agricultura.

Ao localizar a agricultura, permitimos que propriedades pequenas e biodiversas forneçam alimento no mercado local, o que incentiva o produtor a aumentar a variedade de seu plantio, empregar mais gente e usar menos energia e recursos.

Na verdade, produções locais de menor escala geralmente significam menos uso de energia e menos poluição — em particular porque eliminamos uma logística redundante e que gera muito desperdício de produtos idênticos que vão e voltam ao redor de todo o planeta. E mais, reduzir a escala da economia nos permitirá reduzir o tamanho do governo também — tornando os líderes políticos mais facilmente responsabilizáveis pelas suas ações e amplificando a voz do cidadão comum.

Em economias de escala humana as pessoas estão mais conectadas umas às outras — algo que, estamos percebendo cada vez mais, é crucial para o nosso bem estar.

Em contraste com a imagem de distantes estrelas da mídia e modelos da moda que frequentemente promovem sentimentos de baixa auto-estima, raiva e ressentimento, as nossas referências no futuro podem ser pessoas de carne e osso de dentro da comunidade (como, é claro, aconteceu na maior parte da história humana). E enquanto a crescente escala da economia sistematicamente nos separa da natureza, sermos mais locais nos permitirá com maior facilidade experienciar nossa profunda e inextricável conexão com a vida à nossa volta.

A localização já está acontecendo. Sem a ajuda ou aprovação de governos e indústrias, milhões de pessoas estão silenciosamente demonstrando o potencial que os sistemas localizados têm em preencher nossas necessidades atuais sem ‘pegar emprestado’ das gerações futuras.

Isso inclui o vasto e crescente movimento de alimento local, alianças entre negócios locais, iniciativas de energia comunitária e finanças locais. Também incluem numerosos movimentos como o Via Campesina, permacultura, Cidades em Transição e ecovilas. Esses projetos de base mostraram suas habilidades em curar feridas entre diferentes gerações, grupos étnicos e classes sócio-econômicas.

Nosso desafio é criar uma ponte entre o antagonismo convencional esquerda-direita e falar com uma só voz.

A mensagem é clara: precisamos substituir a economia monolítica global de hoje com um caleidoscópio de economias locais vibrantes, que juntas, refletem a diversidade extraordinária de culturas e ambientes pelo planeta todo. Essa é a economia da felicidade, ou do bem estar — mas se as tendências de hoje continuarem, será cada vez mais a economia da sobrevivência.

Helena Norberg-Hodge promove os benefícios pessoais, sociais e ecológicos de economias locais há mais de trinta anos. Ela é autora, cineasta, fundadora e diretora do “Local Futures” (“Futuros Locais”) e professora em diversos cursos no Schumacher College.

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