Escola Schumacher Brasil
Escola Schumacher Brasil
3 min readMay 10, 2024

--

Sem dúvidas, doar e se voluntariar para ajudar os afetados pelas chuvas no Rio Grande do Sul (RS) é a resposta mais urgente que o amor nos chama a dar. Amar é sentir a dor do outro como própria, e isso nos mobiliza a esse cuidado imediato. É emocionante ver a comoção e mobilização nacional em apoio aos afetados no RS. Mas o que mais o amor radical nos chama a fazer diante de tanta dor?

Para Satish Kumar, o amor radical vai além de sentimentos e ações pessoais: requer ação coletiva pela transformação da realidade. Ao unir a compaixão que sentimos pelas vítimas das enchentes com a compreensão das causas mais amplas da crise climática, somos chamados a assumir radicalmente o papel de ativistas climáticos. Isso significa ativamente tecer os significados e mobilizar as mudanças necessárias para enfrentar as raízes dessa crise global.

Precisamos ajudar as pessoas a reconhecer a conexão entre essa tragédia e o modelo de agronegócio que promove desmatamento de sul a norte do país. As matas têm papel fundamental na regulação das águas: seja localmente, absorvendo as chuvas para mitigar as enchentes; seja globalmente, fixando carbono da atmosfera para regular o clima e impedir o aquecimento global que leva às emergências climáticas.

Infelizmente, esse desenvolvimento predatório continua a se expandir. Enfrentamos contínuos ataques à legislação ambiental e aos direitos indígenas no congresso, incluindo a proposta de marco temporal que ameaça o reconhecimento das terras indígenas. É imperativo que resistamos a esses retrocessos e defendamos as políticas que protegem nossas matas e os povos que as guardam!

Conseguimos enxergar nossa responsabilidade em todo o sofrimento que vemos hoje no sul? Cada escolha do nosso estilo de vida baseado nos combustíveis fósseis é uma gota nessa inundação. Do conforto do uso de carros individuais à conveniência da compra de produtos que emitiram uma imensidão de carbono antes de chegar nas prateleiras do supermercado. Quem mais tem, mais contribui. Mas, fingimos diariamente não perceber nossa contribuição para as mudanças climáticas que agravam eventos extremos como esse.

Se não agirmos, tragédias como essa se tornarão mais frequentes, em todas regiões do país. Amar radicalmente os que hoje sofrem é estender incondicionalmente esse amor a todos que podem vir a sofrer, humanos e mais que humanos. Isso nos exige estar preparados para enfrentar e, mais importante, prevenir tais eventos futuros. Devemos agir agora, para evitar que essa espiral de sofrimento continue!

Ano passado o RS já havia sido palco de desastres relacionados ao excesso de chuva. Mas isso não foi o suficiente para serem tomadas as atitudes necessárias; passado o susto, tudo voltou ao normal. No extremo oposto, recentemente também tivemos a maior seca dos últimos tempos no norte do país, e o que fizemos a respeito? Não podemos desperdiçar mais essa oportunidade de levar a sério a crise climática que vivemos! Não podemos voltar ao “normal”!

Precisamos impedir mais retrocessos ambientais, precisamos promover a regeneração das matas nativas e práticas agropecuárias regenerativas. Devemos dar passos rápidos para romper com o uso de combustíveis fósseis, desenvolvendo economias que não só deixem de emitir carbono, mas que o removam da atmosfera. Com um estilo de vida de simplicidade elegante, pode haver prosperidade para todos. Exijamos políticas públicas de defesa civil preventiva e de adaptação às mudanças climáticas, especialmente para as populações mais vulneráveis...

Para isso, precisamos do envolvimento de cada um de nós para garantir que essas mudanças aconteçam, no nível pessoal, coletivo e político! Por cada um dos que hoje sofrem com as chuvas no sul, e para evitar a dor dos que sofrerão nos eventos extremos porvir: o amor radical nos chama a assumir definitivamente o papel de ativistas pelo clima!

--

--