Um novo olhar para a liderança

Foto: Casey Horner

* Transcrição da palestra da professora Patricia Shaw na conferência na Be the Change Conference na Copenhagen Business School com o tema Desenvolvendo o diálogo nas organizações: Uma perspectiva sobre a complexidade.

A visão da Patricia apresenta uma visão muito simples e extremamente sofisticada sobre o desafio do que significa liderança na atualidade. Nos relembrando do poder da descrição dos fatos, da importância da linguagem oral e da coragem do líder em facilitar e provocar conversas relevantes que naturalmente não ocorreriam. Abaixo a transcrição da sua palestra.

Desenvolvendo o diálogo nas organizações: Uma perspectiva sobre a complexidade

O que queremos dizer quando falamos de mudanças nas organizações? Como falamos sobre isso? Os diálogos que temos confirmam, em nossa compreensão, o que uma organização é e o que a liderança é. A linguagem controla a nossa atenção, torna algumas coisas invisíveis para nós e nos justifica sermos levados pelos outros. Saiba como a professora inglesa Patricia Shaw, trabalha com o diálogo como um método de desenvolver a nós mesmos e nossos negócios. Esteja ciente de como nós, em conjunto, criamos a organização através de improvisações, respondendo a eventos críticos e dando sentido a atividades em meio a um fluxo de imprevisibilidade.

Ontem a noite pensei sobre como eu tenho me posto a pensar sobre liderança. Pelo menos um aspecto de liderança. E se eu fosse tirar isso da figura do líder, eu perguntaria, qual é o trabalho da liderança, qual é o modo de pensar liderança? Eu tenho várias formulações, as quais escrevi ontem a noite. Por um bom tempo eu tenho dito que uma das maneiras de pensar liderança, é que é sobre provocar conversas que poderiam não acontecer de outra forma. Também podemos dizer que o trabalho de liderança é sobre abrir espaços para a investigação reflexiva no meio de nossa vida institucional, de ter a coragem de fazer isso.

Também posso pensar liderança em termos de agir, sobre a tomada de ação visível. Uma das coisas mais exigentes da liderança é sobre assumir uma voz, trazendo as coisas à tona. É sobre dizer e fazer as coisas quando as consequências disso se propagam de maneiras além das quais você consegue prever quando o faz. No entanto, você tem que correr o risco, fazer o julgamento, tentar.

Dentro dessa noção de que uma das maneiras de se pensar liderança está na maneira como o líder engaja, abre e desloca a vida conversacional de uma organização, eu acho que há muitas pequenas práticas que merecem atenção.

Ontem à noite eu me dei a tarefa de listar algumas das práticas que eu estou mais atenta agora:

Uma delas é ter a coragem e a habilidade de convidar e sustentar conversas bastante abertas e fluidas, que nem sempre são gerenciadas por uma agenda altamente estruturada. Eu acho que isso é uma habilidade da liderança.

Em segundo lugar, diria que ser capaz de inventar, improvisar, no espírito do momento, mudar a configuração da falar uns com os outros que ajuda a manter a conversa viva. Movendo-se entre pessoas falando em conjunto, em pequenos grupos, em pares, ouvindo atentamente, refletindo em grupos. Parte de ser um bom líder é poder trabalhar com conversas como uma arte.

Cada vez mais eu reconheço a dificuldade de trabalhar com pessoas, frequentemente mais experientes, que se acostumaram a dar relatos compreensivos e abstratos sobre políticas, estratégias e direcionamentos com muita confiança, mas não conseguem responder quando você os pergunta: “você pode relacionar isso com algo que aconteceu na semana passada?“ Eles não sabem o que responder. Ao meu ver isso é um grande problema. Uma das questões que considero necessária para os líderes é que eles aprendam a vincular o pensamento de grande escala com a realidade imediata da vida cotidiana. A incapacidade de fazer isso é realmente problemática.

Relacionado a isso, eu diria que estou percebendo cada vez mais que é necessária a habilidade de pensar de maneira inteligente quando você usa material escrito e quando usa o importante valor da comunicação oral. Acho que esquecemos como muita comunicação complexa pode ser realizada através da troca oral que a documentação escrita quase sempre a reduz e diminui. Precisamos da documentação através da linguagem escrita, mas apenas na medida em que a usamos para desvendar mais uma vez a complexa comunicação pela qual conseguimos sustentar o conhecimento do mundo complexo entre nós. Esse movimento entre o oral e o escrito de novo é uma arte que os líderes devem desenvolver conscientemente

Outra coisa que eu diria é que eu sinto que os líderes com os quais que eu lido na maioria das vezes são bons em explicação e são muito pobres na descrição. Eles não conseguem fazer uma descrição detalhada e que pode ser confirmada do que aconteceu e como isso aconteceu. Eles são rápidos demais para querer encontrar causa e efeito e uma conexão linear muito simplista entre os eventos. Eles não têm capacidade reflexiva descritiva para investigar como as circunstâncias acontecem em processos de mudança.

Outra coisa que faz uma grande diferença é ser capaz de captar — particularmente na mudança de cultura, o Edgar Schein chama no seu trabalho de “Critical Incidence” (Incidência Crítica) — que é a capacidade do líder de evocar e perceber o que chamo de “momentos vívidos de experiência” que ocorrem na vida organizacional que servem como momentos de referência comuns que você pode apontar, explorar juntos, chegar a um entendimento que tenha significado para as pessoas em sua atividade cotidiana.

Finalmente, outra coisa que eu quero mencionar é a capacidade de prestar um pouco menos de atenção à geração de outro e mais outro plano de ação e prestar mais atenção em quais são os caminhos que estão se abrindo à nossa frente e que poderemos explorar como próximos passos antes de irmos longe demais para produzir grandes planos de ação do que pretendemos produzir.

Essas são algumas micro práticas, como tenho chamado, de trabalho na vida conversacional.

Patricia Shaw é Fellow e professora da Schumacher College, e faz parte do conselho da Escola Schumacher Brasil. É professora convidada na Copenhagen Business School, na Dinamarca e professora visitante na Escola de Negócios da Universidade de Hertfordshire, onde ajudou a fundar um doutorado profissional com uma abordagem da complexidade em mudança organizacional. Tem mais de 30 anos como consultora em diversas organizações, tendo contribuído para uma prática de consultoria renovada pelas ideias das ciências da complexidade. Patricia é autora dos livros Changing Conversations in Organisations (2002) e Working Live: Spontaneity, Risk and Improvisation in Organisational Change (2006), ambos publicados pela Routledge.

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Caroline Busatto | Nova Economia
Escola Schumacher Brasil

Acordo para promover uma economia que favorece a vida por meio de pessoas e negócios. IG: @carolbusa / Site http://www.carolinebusatto.com.br