dois mil e dezesseis!

Gabi Abreu
gabiabreu
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4 min readFeb 6, 2018
Vinho, vitrola, meia e marola ❤

Eu sempre fui de encarar as coisas. Não tenho medo, me jogo mesmo. Literalmente. Já me joguei de um avião em movimento, de uma ponte em cima de um lago e de um contêiner a 150 metros de altura que estava pendurado numa pedreira. Tudo isso foi fácil demais comparado a dois mil e dezesseis.

- Oi, aqui é a Gabriela da Revista CLAUDIA.

Eu falava essa frase umas doze vezes por dia, em média. Sempre em tom de orgulho, de paixão pelo meu ofício, às vezes árduo, confesso. Mas, às vezes árduo e acompanhado de um par de ingresso para aquele show do Milton com o Criolo que eu teria que trabalhar três meses para pagar. Ou, com o encontro cara a cara com o diretor-ator-amor frânces Louis Garrel. Árduo e recompensador!

De repente eu virei só a Gabriela. Sem ofício. Sem salário. Sem orgulho. Sem o par de ingressos. Sem o amor francês. Sem as companheiras diárias de trabalho que eu tanto gostava. Crise! Quem sou eu? De onde vim? Para onde vou? Qual o sentido da vida? COMO VOU FAZER PARA COMPRAR COMIDA SEM O MEU VALE REFEIÇÃO?

Eu sempre amei meu canto. Meu encanto. Desde que me mudei para São Paulo, em 2012, morava sozinha. Até que a crise chegou, bateu, bateu forte e eu tive que começar a dividir meu apê com uma amiga linda e minha irmã mega legal. Mas foi difícil. Não por elas, entendem? Por mim. Perdi meu espaço. E eu preciso de espaço para ser quem sou, para escrever, para respirar, para pirar em silêncio. Já era! Eram duas geminianas que botavam para quebrar nas bandas de Perdizes.

Dois mil e dezesseis. Encontrei um cara potencial para um ~lance~. Na verdade, se eu tivesse que descrever alguém para eu ser parceira para sempre, falaria todas as qualidades que ele tinha. Além de gostar de música brasileira e dançar forró, ele me levou sorvete dilleto com petit gateu na primeira vez que foi à minha casa e isso já era motivo suficiente para eu amarrá-lo ao pé da minha cama. Durou três intensos meses. Gostei dele por mais três intensos meses depois dele decidir que eu sou “uma pessoa maravilhosa, mas não estamos mais na mesma sintonia”. Sabe como é, né?

Mil e dezesseis. O mundo enlouqueceu… Crise de refugiados, guerra na Síria, bomba em Paris, massacre em Orlando, sangue na Palestina, avião do Chapecoense, Allepo, TEMER!, TRUMP!. O mundo estava doído demais para mim. Alguém precisa entender que sou em carne viva. Dói! E eu continuo escrevendo poesia. Poesias de revolta, de dor, de necessidade, mas também de amor, de sonho, de utopia. Eu resisto.

“Eu guardo tudo, sim. E uma hora explodo, por eu não caber mais em mim”, já tinha avisado no Meu Caderno Azul. Até que em dois mil e dezesseis eu explodi. POW! Fui pros ares. Quando percebi estava a quase um mês chorando enlouquecidamente todos os dias. Não saia da cama. Não conversava. Não ria. Não produzia nada. Crise de ansiedade! O mal do século. A doença da minha geração. Eu que sempre fui super responsável com minha saúde mental. Me cuidava, lia, conversava, falava de coisa zen, tirava tarot, fazia mapa astral, rezava… É, aconteceu e foi horrível.

- Gabriela! Ajuda, já!

Gritei comigo mesma, em frente ao espelho, logo após uma crise de choro em que eu me peguei deitada em posição fetal no banheiro. No outro dia já fui numa terapeuta que trabalhava com floral de Bach e marquei psicóloga — junguiana, por favor! Melhorei. Estou melhorando. Aprendendo a lidar com essa sensibilidade toda que sou. Aprendendo a não acumular todos os sentimentos do mundo em mim. Aprendendo… Aprendendo… Aprendendo…

DoisMilEDezesseis! Aprendendo… Só isso que fiz. Aprendi. Foi o mais duro de todos. De longe, foi o mais solitário. O mais otário. O mais doído. O mais doido. Mas consigo respirar. E isso é algo que valorizo muito mais agora — depois das crises que tive. É horrível você procurar o ar e ele não estar lá. Agora eu fecho os olhos, respiro pelo nariz, sinto o ar descendo até o meu pulmão, o encho até ele quase explodir… E solto…

Que pena que só aprendi a valorizar o ar quando ele me faltou.
E foi essa a lição do ano, não quero aprender a valorizar a vida só quando ela me faltar. Não quero valorizar a sorte só quando ela me faltar. Não quero valorizar os amigos por perto só quando eles me faltarem. Não quero valorizar o amor só quando me faltar. Não quero valorizar minha família só quando eles me faltarem.

Em dois mil e dezessete eu vou agradecer mais. E pensar menos. E continuar me jogando do avião, da ponte e do container. E me jogar no mundo, na vida, nos sentimentos e em cima de alguns por aí. APROVEITAR! Que tem muita música para eu dançar. Muito cangote para eu cheirar. E um tantão de gente para eu conhecer. Já estou pronta. Pode vir que o único tópico na minha lista de prioridades do ano que chega é SER FELIZ!

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