O começo

Pedro
Escrevendo sobre dados
3 min readOct 14, 2016

Eu não nasci redator. Mas se fechar os olhos, tenho clara a lembrança da minha mão bem pequena segurando um lápis. Mal tinha 3 anos quando minha avó me ensinou a ler e escrever, na casa dela, na Tijuca.

Mas o mais importante dessa história não é o talento que desenvolvi. É o que nasceu comigo. Sou filho de vó nato. E pior: de 3 avós. É, a avó que me ensinou a ler, na verdade é minha tia, irmã da minha mãe, mas foi promovida a avó assim que aprendi a falar.

Dona Marsem. Avó empossada, foi a que mais me mimou. Meu prato trazia belas porções de purê de batatas e feijão coado. E seu talento para fazer as minhas vontades me fez crescer uma criança gordinha — e cheia de si.

Mas se minha infância farta prejudicou meu desempenho nas escadas do velho prédio da Tijuca, regalias como andar de bicicleta no corredor me fizeram crescer acreditando que podia de tudo. Menos tomar banho de chuva, claro.

Aos 14, veja bem, já escrevia há 10 anos. Oras, naturalmente decidi que seria redator. Matava até aula de matemática pra escrever as músicas da banda. Aliás, música, poesia, conto. Tudo. Qualquer engarrafamento já era motivo para puxar o bloquinho dentro do ônibus.

Aos 16 passei pra faculdade e com 18 entrei na primeira agência. Com 19, já trabalhava na multinacional Artplan. E isso sem comer um caroço de feijão. Tá vendo, vó? Eu posso de tudo.

Na Artplan eu me criei, dessa vez sem minha avó. Fiz alguns trabalhos legais e outros amigos legais ao longo do tempo que passei lá. Mas se você já leu alguns textos do Medium, você sabe que essa história vai dar merda em algum ponto.

E deu. Como bom filho de vó, eu entrei em conflito com muitas coisas do mercado publicitário e decidi largar a tal carreira promissora para tocar projetos pessoais.

Ontem voltei na Artplan para pagar as tapiocas que comprei fiado e falar com as pessoas das quais a falta de rotina me afastou. Duas delas, amigas, me presentearam com uma chique caixinha de dados italiana. Nela, há 6 dados, cada um com 6 imagens. Você lança e faz o que quiser. Como estou com bastante tempo sobrando, eu fiz isso daqui.

Minha intenção é exercitar meu storytelling — que para a minha avó era “contação de histórias”. Toda semana escreverei a partir do acaso dos dados, como fiz hoje. A ideia é que você passe a ler textos melhores — e mais curtos — do que este.

Eu acredito. Eu aprendi a andar de bicicleta no corredor. Me dou bem com limitações. Mas não é só por isso.

É que eu sou filho de vó. Eu posso de tudo.

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Dados de hoje (se quiser, pode se virar para encontrá-los. Eu juro que me virei para escrevê-los).

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