fugir de si

Larissa Lopes
escrevome
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2 min readAug 15, 2019

Eu tenho uma prima que mora na casa ao lado da minha. Ela é inteligente, divertida, sincera e ainda cuida de um cachorrinho — Lolo, o nome dele. Hoje pela manhã fui à casa dela para trabalhar (home office é vida), porque estavam ajeitando um vazamento na parede da minha casa e o barulho me incomodou. Quando cheguei ela estava triste, Lolo também notou. É fácil compreender os sentimentos da minha prima, às vezes pareço saber o que ela está pensando, chega a ser sinistro. Hoje ela queria fugir de si mesma, não por um momento, nem por horas, por dias. Estava ansiosa, o corpo começou a despelar, sangrou. Sensação de impotência. Quem recebe a primeira pancada é a comida. Nossa família tem uma relação misteriosa com o ato de se alimentar. Comeu alguns doces, foi para as bolachas, voltou para os doces. Não gostamos da ideia de viajar para esquecer os problemas, primeiro que a gente não tem dinheiro, segundo que, não faz sentido, você sempre viaja com você. Discutimos sobre o assunto na adolescência, em uma dessas festas do pijama. Uma vez disseram que ela precisava se amar, só esqueceram de falar quais eram os passos para isso. Sejam pragmáticos, oh sábios senhores, de preferência apresentem um gráfico com os resultados, minha prima cursa engenharia e detesta o campo das ideias. Hoje ela está assim, amanhã pode ser eu, depois você. Somos iguais. Dela posso estar perto, abraçar e oferecer o ombro, mas a vontade é de um abraço coletivo com todes. Respira e segue o bonde, mana, Ele não abandona. Nós? Continuaremos de mãos dadas.

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