.10

Um poema narrativo.

Flávio Porto
escrita
1 min readMay 23, 2020

--

.Esmo

Pensando bem agora, não faz sentido.
Antes também não fez, mas houve engano.
Engano forte, engano presente;
presente como os pelos que trago
no corpo.

Ele não tinha aval, muito menos orgulho.
Num dia qualquer,
desses que o estômago não embrulha,
desses que a cabeça não dói,
desses que o pé não cansa,
desses que a vontade é latente e
ainda consegue atingir crueldade.

Incompreendido,
transbordou as falhas;
correu como se não fosse atingir
um objetivo impossível e
constatou o que seu suor
gritava.

Era tarde quase noite
ou noite quase dia;
era a criação de um tempo.
Era outono quase inverno;
era frio como se tudo estivesse
parado.

Ele não pensava mais sobre
realidade e suas nuances;
ele buscava o fim.
O fim o aguardava como
se fosse impossível.

Ele se jogou num vão
mas não foi;
se perdeu em si e
esqueceu de seguir a
alma.

Queria alcançar a febre
natural e a coragem
parecia suficiente:
irremediável.

Consumiu a própria fome:
findou em fingimento.

Declarou infinita a
própria falta e ficou
devendo explicações
sobre quase qualquer
coisa.

--

--