É sempre bom lembrar o quão incrível Missão:Impossível pode ser

Roberto Honorato
Rima Narrativa
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6 min readJul 31, 2018

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Depois de “Efeito Fallout”, o sexto filme da franquia, aprecio ainda mais as aventuras de Ethan Hunt.

Missão:Impossível 6 - Efeito Fallout (eu ainda não sei a forma correta de escrever os títulos da franquia em português) é, até o momento, o último lançamento da franquia que deixa as companhias de seguro de vida sem sono, tudo por causa de Tom Cruise e suas ideias loucas que colocam sua vida em risco constantemente. Independente das minhas ressalvas quanto a vida pessoal de Cruise (não vou entrar em debate religioso, aqui o foco é pura e estritamente em cinema), isso é uma coisa que eu admiro, quando um ator se dedica de coração ao papel, e depois de assistir o novo filme, começo a considerar que esta talvez seja a melhor franquia de ação em atividade.

Eu adoro Missão:Impossível. As missões do agente Ethan Hunt (Tom Cruise) são algumas das melhores que já vi no cinema, e por mais que eu só tenha começado essa relação com o quarto filme da série, Protocolo Fantasma, já tinha assistido os anteriores, desde o primeiro, do grande Brian De Palma; passando pela decepção que foi ver John Woo, um bom diretor, produzir algo tão mediano; depois disso, foi a vez de J.J. Abrams tomar conta, e ele não fez nada incrível, mas fez bem. Foi só com Protocolo, de Brad Bird, um diretor que admiro por vários trabalhos em longas animados, que meu fascínio aumentou. Como já deu para perceber, todos os filmes tiveram um diretor diferente, mas isso até agora, porque Christopher McQuarrie é o primeiro a liderar dois M:I (vou usar bastante a sigla daqui pra frente — poupa tempo) consecutivos: Nação Secreta e Efeito Fallout.

Mas de onde vem todo esse fascínio?

Imagem promocional do filme “Missão:Impossível 6-Efeito Fallout”

M:I entrega todos os elementos necessários para um bom filme do gênero, e quando eu digo gênero, estou deixando claro aqui que estamos falando de um filme de espionagem, e independente de seu gosto pessoal e suas preferências, acredito que todo filme deve ser julgado pela forma que trabalha sua proposta. Assim como um filme “de super-heróis” tende a ter roupas coloridas e uma grande batalha final com um vilão megalomaníaco, um thriller de espionagem não consegue fugir da tentação de criar reviravoltas absurdas ou uma corrida contra o tempo para criar tensão. Se você estiver fazendo tudo isso, mas tiver bons personagens, uma trama envolvente e um diretor competente, nada pode dar errado. Felizmente, temos M:I, com criatividade suficiente para que estes elementos sejam uma parte essencial da trama, adicionando mais charme, mesmo com algo que alguns podem considerar “brega”, como a música tema da franquia, os gadgets ou os disfarces. Tudo funciona. Além disso, é claro que há um enorme diferencial nestes filmes; Assim como os Vingadores tem um Hulk, Missão:Impossível tem um Tom Cruise.

Cruise adora esse trabalho, é só ver o entusiasmo na cara do ator em qualquer filmagem dos bastidores, enquanto se prepara para fazer alguma manobra arriscada, como escalar um prédio ou invadir um avião durante a decolagem. Essa animação é representada nos filmes com sua vontade de fazer o que deveria ser o trabalho de um dublê. Em Efeito Fallout, você pode ter a sensação de estar lendo o portfólio do ator. Ele escala um penhasco, pilota um helicóptero, dirige um carro, uma moto, mostra alguns golpes de luta aqui e ali, tenta se segura em uma corda que está bem longe do solo, e corre muito. Muito. Mas isso já virou uma das coisas que você espera em um Missão:Impossível.

Essa dedicação deixa as cenas de ação mais efetivas, e se você é um diretor que tem um ator como Cruise, é só deixar tudo em um plano bem aberto, com uma câmera bem firme; sem contar que há um apelo visual mais que competente — afinal, Cruise não vai perder tempo fazendo algo perigoso sem que haja um bom trabalho do departamento de arte. McQuarrie, assim como Bird e De Palma, sabe o que enquadrar e como deixar tudo o mais dinâmico possível, seu uso da trilha sonora é preciso e a ausência dela em algumas cenas, nos deixando apenas com o som ambiente, contribui para a tensão. M:I cresce sem perder equilíbrio. Por mais que seja um longa com carros se batendo e balas voando, a série não fica para trás nos momentos dramáticos.

O elenco de Efeito Fallout, por exemplo, é composto por bons atores, todos com personagens intrigantes e relevantes, como Simon Pegg e Ving Rhames, que retornam como Benji e Luther, respectivamente. Rebecca Ferguson reprisa seu papel de Ilsa Faust, e até Michelle Monaghan ganha espaço para fechar o arco de sua personagem, a ex-esposa de Ethan Hunt, Julia. Henry Cavill é a novidade em Fallout, ele faz Walker, um tipo de antagonista necessário.

Com um elenco sólido e personagens bem construídos, isso somado ao fato de Cruise ser também um bom ator, que administra bem sua dose de drama e comédia, M:I dedica tempo para uma sensibilidade maior, sem medo de soar piegas, e isso está em falta em muitos blockbusters atuais, que são cheios de boas intenções, mas raras as vezes em que transparecem honestidade.

Fallout tem um ritmo de urgência que faz as mais de duas horas de duração passarem despercebidas. É quase tão ininterrupto na ação e elaborado em como conecta estas cenas com a trama geral, que paralelos com produções como A Origem, de Christopher Nolan, podem ser feitas. A vantagem de M:I, com seu ator capaz de realizar as próprias acrobacias, faz com que esta franquia tenha, ao lado de John Wick (nela, é Keanu Reeves quem dispensa os dublês), uma experiencia mais visceral. Por mais que eu me divirta assistindo a série Velozes e Furiosos, por exemplo, ela não consegue causar o mesmo impacto no público. É um conceito com alta chance de entretenimento, mas quase descartável, infelizmente, por conta da falta de conexão sentida entre nós é a imagem carregada de efeitos especiais desnecessários.

Em M:I e John Wick, o CGI é mínimo e os riscos são reais. Nossa reação tende a ser mais efetiva, não interessa se você sabe que a estrela do filme continua viva para mais um filme, a jornada é tão angustiante e bem construída que revisitar estes filmes não perde a graça, principalmente no caso de Missão:Impossível, que já passou duas décadas desenvolvendo conspirações e drama convincente sem reboots ou remakes. É a mesma história, evoluindo ao longo de seis filmes, e Fallout encontra seu lugar como um dos melhores, debatendo a figura de Ethan Hunt e provando o quão insubstituível é Tom Cruise para esta franquia.

Pode soar como exagero, mas não consigo lembrar de sair de uma sessão de cinema com tanta energia como esta, pelo menos nos últimos anos. Missão:Impossível é o tipo de blockbuster que não se limita apenas aos rostos bonitos e ação de tirar o fôlego, aqui temos criatividade e coragem o suficiente para tentar trazer algo maior e melhor, sem deixar de lado tudo que fez estes filmes tão bons em primeiro lugar: diretores interessados em experimentar coisas novas, se surpreendendo com a vontade de Tom Cruise em aumentar os riscos e criar uma experiência única para o público. Se tem uma franquia que vale a pena e não perdeu nem um pouco do seu fôlego, é essa.

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Roberto Honorato
Rima Narrativa

"Mad Mastermind". Eu gosto de misturar palavras e ver no que dá. Escrevo sobre ficção científica para o Primeiro Contato e cinema para o Rima Narrativa 📼