Simon e a importância de finais felizes

Lory Côrtes
Rima Narrativa
4 min readJun 30, 2018

--

“Todo mundo devia ter que declarar o que é. Devia ser uma coisa bem constrangedora. Não importa se você é hétero, bi ou sei lá o que.”

Quantos romances com final feliz você já leu? E quantos desses tinham protagonistas LGBTQ+? Estamos acostumados a esperar viagens românticas, casamentos, filhos ou o grande beijo como desfechos de histórias românticas, mas esse é o padrão para casais heterossexuais.

Personagens gays, lésbicas, bis e trans geralmente tem que lidar com outros finais. Seja a temida AIDS, um relacionamento que não deu certo ou as dificuldades de se assumir. Isso quando ganham o destaque de protagonistas e não são apenas os melhores amigos da mocinha.

Até um tempo atrás eu não tinha lido muitos livros com protagonistas queer e jovens. Não sei se esses livros não estavam sendo lançados, ou se eu nunca os tinha procurado. Um dos primeiros do qual ouvi falar foi “Garoto Encontra Garoto”, do David Levithan, lá do começo dos anos 2000. Mas foi do ano passado pra esse que eu entrei de vez nessa categoria com “Quinze Dias” (Vitor Martins), “Dois Garotos se Beijando” (David Levithan), “Minha Versão de Você” (Christina Lauren), “Simon vs a Agenda Homo Sapiens” (Becky Albertalli) e “Aristóteles e Dante Descobrem os Segredos do Universo” (Benjamin Alire Sáenz). Inclusive recomendo todos e aceito recomendações ;D

E só depois de ler esses livros, assistir “Com Amor, Simon” e ler esse texto no Medium que eu parei para pensar e me toquei que esse não é o padrão para esse tipo de histórias, infelizmente pessoas não-héteros não estão acostumados a ver finais felizes em livros, filmes e séries que os representam.

E isso é exclusão, é escolher eliminar essa possibilidade da vida dessas pessoas e apenas mostrar os lados difíceis. A autora de Simon inclusive já disse: “É claro que no mundo existem problemas maiores do que um garoto enfrentando dificuldades com sua sexualidade ou do que uma garota que quer arranjar um namorado e não consegue, mas para mim era muito mais do que isso. Era desesperador me sentir excluída daquele jeito”. E é desesperador mesmo. Sou hétero, mas sou negra e já cansei de ver pessoas iguais a mim sendo excluídas da mídia e sendo mal representadas.

Por isso acho muito importante que a Becky tenha escolhido contar a história do Simon, um adolescente gay que é obrigado a sair do armário, mas que encontra suporte e aceitação da sua família, dos amigos e até da escola, e ainda acaba o livro com um namorado gato do lado. Não é só mais um livro jovem adulto, é uma mensagem encorajadora para outros jovens que diz “vai dar tudo certo, você também merece um final feliz”.

E o fato do livro ter feito tanto sucesso e ter sido adaptado para um filme que foi muito bem recebido, abre espaço para outras vozes, outras histórias, outros finais felizes. Espero que outros autores se incentivem e tirem suas ideias do papel, e principalmente que as editoras e produtoras vejam que representatividade dá sim dinheiro, tem muita gente disposta a pagar para se reconhecer nas páginas e nas telas.

A própria Becky Albertalli acabou de lançar o livro acima, que é a continuação direta de Simon onde podemos ver o último ano pelos olhos sarcásticos de sua melhor amiga, Leah

O livro vai ser lançado aqui no Brasil pela Intrínseca em agosto com o nome “Leah Fora de Sintonia”, super recomendo a leitura e volto aqui depois para dizer o que achei (já li em inglês, mas achei melhor não dar spoilers).

Vamos apoiar essas histórias e não esquecer de seus impactos sociais, afinal a mensagem de um final feliz pode ser muito importante e ajudar uma pessoa que está precisando. #LoveisLove

--

--