Hoje eu aceito a pausa
Hoje eu aceito a pausa…
Não brigo mais com ela…
De alguma forma a escuto e encontro o que antes não via: um convite para não esquecer.
Estou em processo de desintoxicação temporal. Cuspo e vomito ponteiros e números.
Hoje eu aceito a pausa e o silêncio, não porque me calei, mas porque agora posso ouvir tudo no mesmo instante e ouvindo posso dizer.
O cansaço ainda é grande.
Hoje eu não brigo mais com ela.
O tempo é só uma invenção e se paramos de inventar o tempo vira máquina e os nossos órgãos nos sabotam.
Eu disse que hoje eu aceito a pausa, o silêncio e a invenção.
Estou em processo de desintoxicação e o cansaço ainda é grande.
A minha invenção atemporal é a queda. Na queda eu desejo um encontro. Os encontros são passagens rápidas e lentas que demoram tanto que é impossível de se ver.
O eterno abrupto.
É impossível encontrar pessoas. Só se encontra lugares. Lugares onde respiro os meus respiros roubados.
Como disse: não brigo mais com a pausa, com o silêncio, com a invenção e nem com a cidade. A cidade está dentro de mim agora, e não fora. Engoli todos os seus ruídos e deles inventei outras palavras.
Os prédios entorpecidos, o choro do asfalto, a janela que engole, a fuligem que esfola e a fumaça que grita são as minhas invenções.
Quando tento contar o tempo as contas não fecham, pois uma viagem está em andamento. Eu aceito. Eu não brigo. Eu me limpo e na queda invento mundos. A linguagem não dá conta.
Todas as vezes que o relógio desperta eu grito mais alto para não virar tempo.
O meu medo é o suposto retorno a uma normalidade. Eis uma coisa com a qual não faço as pazes: o normal.
Ei, não dá! Eu não posso! Não me encaixo! E nem quero, então, desista de mim! Eu sequer sei envelhecer, então aposte suas fichas em outra coisa… Será melhor!
Eu sempre soube que a pausa é uma queda livre.