De olho no futuro: Healthtechs crescem e revolucionam o mercado de saúde para idosos

Esentia Inteligência
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8 min readApr 22, 2021

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Adoção de soluções como machine learning, telemedicina e IA vêm impulsionando a tendência de oferta de serviços inovadores para idosos

Segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), uma em cada seis pessoas no mundo terá mais de 65 anos — cerca de 16% da população global — até 2050, sendo que o Brasil será o sexto país com o maior número de pessoas acima de 60 anos no mundo. Neste percurso, a estimativa de vida dos brasileiros está aumentando, já que as projeções apontam que em três décadas, as mulheres viverão entre 96 e 100 anos, enquanto os homens entre 86 a 87 anos de idade.

Outro dado importante é que a população brasileira será de 232,5 milhões de habitantes em 2042, sendo 57 milhões de idosos (24,5%). Deste modo, observamos inversão no cenário demográfico do país, pois o percentual de com 60 anos ou mais vai ultrapassar o de adolescentes de 14 anos, onde serão muitos e viverão mais. Diante desta certeza devemos pensar não em quando vamos envelhecer, mas em como vamos envelhecer.

A partir destas e demais informações coletadas em nosso painel “Inovação na Saúde”, podemos afirmar que teremos impactos diretos e potenciais advindos do envelhecimento da população, seja no mercado de trabalho ou no desempenho econômico do país. Serão diversas as pressões tributárias e fiscais nas próximas décadas, à medida em que será preciso pensar novos modelos para manter sistemas públicos de previdência, assistência social e saúde eficientes para pessoas idosas.

Além disso, toda esta dinâmica já descortina um ambiente onde os cuidados com o envelhecimento e hábitos saudáveis já não são mais uma novidade, mas uma realidade imediata e necessária. A tecnologia aplicada à saúde, nesse contexto, vem proporcionando uma série de benefícios diretos à população idosa, como melhora na qualidade de vida, redução de custos, agilidade e oferta diversificada de serviços.

Mais e mais startups, assim como grandes empresas ao redor do mundo, estão aportando recursos em soluções tecnológicas com foco na saúde dos idosos. Desde 2014, já foram investidos mais de US$ 430 milhões em capital de risco destas startups no país.

As empresas vêm investindo pesado em parcerias para ampliar a oferta de programas preventivos e de bem-estar via healthtech, contribuindo para colocar esta camada da população no centro do processo tecnológico. Movimentos que trarão benefícios para quem realmente importa, o paciente.

Afinal, o que é uma Healthtech?

Empresa de tecnologia ou startup que oferece soluções relacionadas à saúde, a partir da aplicação de conhecimentos médicos e de engenharia para a resolução de demandas do setor. Uma healthtech inclui desde banco de dados, equipamentos, medicamentos, vacinas, plataformas, dispositivos, atendimentos e procedimentos médicos até a melhoria geral dos sistemas médicos.

Além disso, a convergência de Inteligência Artificial e Big Data permitem que os médicos encontrem novos padrões de dados e soluções, trazendo inovação e colocando pressão nas empresas tradicionais de saúde já atuantes no mercado.

Números: Healthtechs Mundo

  • Projeção de faturamento global de US$ 504 bilhões até 2025.
  • Investimentos de US$ 4,5 bilhões no primeiro trimestre de 2020.
  • Healthtechs de saúde mental atingiram faturamento de US$ 576 milhões entre janeiro a março de 2020, superando o recorde trimestral anterior em mais de 60%.

Números — Healthtechs Brasil

  • Aumento de 87,1% no volume de healthtechs no Brasil entre 2010 a 2019 (vide gráfico abaixo).
  • Entre 2018 e 2019, o volume de empresas cresceu 118%, passando de 248 para 542.
  • Em 2020, já são 747 healthtechs ativas e que receberam US$ 106,4 mi em aportes.
  • De janeiro a março de 2021, já foram investidos US$ 90 milhões.
  • Em sua maioria, as healthtechs brasileiras se concentram na Região Sudeste (64,4%) e Sul (21,80%), seguidas pelas Regiões Nordeste (9%) e Centro-Oeste (4,8%).

O mercado de Health se divide em 3 grandes blocos: prevenção, diagnóstico e tratamento. Elas podem estar em diferentes plataformas, focos de negócios e modelos de negócios. No Brasil, as áreas de Gestão e PEP (Prontuário Eletrônico do Paciente) ganharam mais força nos últimos tempos. Startups desses setores representam hoje 25,1% das heathtechs no país, seguidas por empresas voltadas para o acesso à informação (17,3%) e marketplace (13,7%).

Tecnologia a favor da terceira idade

Com o avanço da pandemia em todo o mundo, a população idosa se viu obrigada ao confinamento caseiro como forma de proteção individual. Ao mesmo tempo, a necessidade de dar continuidade ou até mesmo iniciar algum tipo de tratamento de saúde, contribuiu para uma maior aderência ao uso da tecnologia por parte da terceira idade.

Há uma percepção de que eles podem tirar proveito de produtos e serviços de várias modalidades, inclusive as de saúde. Identificamos que, entre dos idosos de 60 anos ou mais no Brasil, 58% têm acesso à internet nos smartphones, contribuindo para o aumento na pesquisa de preços, envio de mensagens, fazer chamadas de voz e vídeo, compartilhamento de conteúdos e compras online.

Hábitos e comportamentos de idosos brasileiros

  • Os aplicativos de redes sociais são os mais utilizados (72%), seguido pelos de transporte urbano (47%), bancos (45%), compras (34%) e delivery de refeições (28%).
  • A rede social mais acessada é o WhatsApp (92%), seguida pelo Facebook (85%) e YouTube (77%). O Instagram também aparece na lista, assim como o Telegram, que já é utilizado por 30% dos consumidores.
  • No Brasil, 10,8 milhões dependem da renda de idosos aposentados para viver;
  • Entre 2007 e 2017, a carreira que mais cresceu no país foi a de cuidador de idosos, crescendo de 5.263 cuidadores para 34.051.

Assim, o futuro promissor que existe entre avanços tecnológicos na área da saúde e a melhoria da qualidade de vida dos idosos estimula o desenvolvimento de soluções em um ambiente caracterizado pela insuficiência na prestação de serviços e pela alta demanda. Não apenas no Brasil, mas em todo o mundo, observa-se que novos players já perceberam essa oportunidade e estão trazendo modelos inovadores de negócios para esse mercado.

“Deixando de lado infância e começo da juventude, a vida adulta tem 24 mil dias. Isso quer dizer que a velhice, sozinha, representa um terço da nossa existência, um tempo que não pode ser jogado fora como se não fosse relevante. E neste ponto, a tecnologia significa empoderamento. É indispensável levar serviços e soluções digitais a todos, a um preço acessível, nos certificando de que os mais velhos possam aprender a lidar com o novo. Dessa forma poderão continuar vivendo em suas casas, com melhor qualidade de vida e utilizando de aplicativos a telemedicina para facilitar o dia a dia.”

Joseph Coughlin, fundador e diretor do AgeLab, laboratório dedicado ao envelhecimento do MIT (Massachusetts Institute of Technology)

As healthtechs mostram que a prática de inovação baseada em dados, no empreendedorismo inteligente e pesquisas de tendências obrigarão governos, mercados, indústrias e gestores a revisitarem seus conceitos e padrões, praticamente obrigando-os a mergulharem em novos modelos de negócios do setor. Para os mais estratégicos, é neste oceano azul da longevidade que estarão as grandes e valiosas oportunidades para o futuro. Não é a toa que 20% das organizações de saúde entendem que alcançarão um aumento de produtividade de 15 a 20% com o aumento do uso de novas tecnologias.

Exemplos de healthtechs com soluções voltadas exclusivamente ao atendimento a idosos:

ElliQ, o robô amigo (Israel): Dispositivo inteligente de comando por voz que ajuda na leitura e resposta de mensagens, compartilhamento de fotos, agendamento de compromissos, lembrete de medicamentos e reconhecimento do ambiente por ecolocalização, auxiliando para que o idoso viva de forma independente por mais tempo e se sinta menos sozinho.
Detalhes: A empresa captou um total de US$ 22 milhões em aportes e ganhou o prêmio de inovação em robótica cognitiva no AI Breakthrough Awards 2018.

Papa, matchmaking entre “netos” e “avós” (EUA): A startup usa ferramentas digitais, como site, aplicativo e call center para “dar match” entre estudantes universitários e idosos. Os “papa pals”, como são chamados os estudantes que trabalham no programa, auxiliam seus “avós adotivos” em tarefas que envolvem companhia, transporte, ajuda doméstica, aulas de tecnologia ou assistência geral.
Detalhe: A startup já levantou US$ 13 milhões em financiamentos.

Birdie, tecnologia para a liberdade (Inglaterra): Desenvolvimento de aplicativos facilitadores de cuidados preventivos para idosos, com foco na independência e na possibilidade de viverem independentes em casa. Os softwares, atualmente, têm quatro recursos principais: gerenciamento de medicamentos, planejamento de tarefas, aplicativo de atendimento e aplicativo familiar.
Detalhe: Em menos de 04 anos, a Birdie já arrecadou US$ 10,5 milhões em rodadas de financiamento.

Nectarine Health, a pulseira inteligente (Suécia): Tecnologia inteligente capaz de transmitir, via nuvem, dados sobre o paciente para familiares e cuidadores, fornecendo um localizador em tempo real, atendimento remoto ou de emergência. A pulseira é programada por meio de inteligência artificial, sendo capaz de detectar imediatamente riscos e de queda e notificar os números de emergência. Ademais, o software é capaz de aprender com o comportamento do usuário, fornecendo tendências de saúde e outros tipos de alertas.
Detalhe: A empresa recebeu rodadas de financiamento que totalizaram US$ 12,6 milhões até o momento.

Esentia Trends

Quais são as principais tendências do setor brasileiro, a curto prazo, identificadas em nosso painel?

  • IA & Big Data: o uso exponencial de dados, informações e análises preditivas sejam para aumentar a eficiência de processos, seja para uma melhor gestão de riscos deve ser expandido.
  • Planos de saúde: a pressão das healthtechs sobre este mercado ainda reservará uma série de possibilidades tanto para inovação quanto para parcerias com o setor corporativo.
  • Odontotechs: Com apenas 20 negócios, apenas 4% das startups de saúde e bem-estar brasileiras atuam na área de odontologia. A barreira de entrada para novos players é baixa e há muitas dores a serem solucionadas.
  • Telemedicina: Acelerado durante a pandemia, o atendimento e monitoramento à distância deve permanecer no ‘novo normal’, democratizando o acesso à saúde.
  • Foco na saúde mental: Com foco renovado em B2B, as soluções que vão desde o acesso à informação e até mesmo terapias digitais devem atender uma crescente demanda por bem-estar mental.
  • Detecção de câncer: Entre os cinco maiores aportes de healthtechs no mundo, quatro foram em startups que atuam com diagnóstico precoce de câncer.

Essas e outras informações você encontra em nosso Painel de Inovações em Saúde. Quer ser um assinante? Envie-nos um email.

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